Sem muito esforço, o álbum já começa instigante. Com menções de um groove sensual funkeado travestido por silhuetas eletrônicas, Movie Star, a faixa de abertura, faz com que o ouvinte tenha ímpetos incontroláveis de usar o corpo para a dança. Com influências do trap e de um post-punk ao estilo The Cure, existe o sussurro, o torpor e o sensual fundidos em uma estética estranhamente reconfortante, qualidades fornecidas, em grande parte, pelo timbre de George Bolton.
Entre o soul, a new wave e o funk, o The Screaming Pope conseguiu, já com a primeira canção de seu novo álbum, seduzir e entreter. Tais fatores seguiram em peso, sem dificuldades, para a próxima canção. Pedal To The Floor consegue ser ainda mais sexy que a faixa anterior por ser agraciada por uma veia R&B latente que grita a partir das linhas do baixo, sensualizando perante os primeiros raiares de luz no amanhecer. Cheia de texturas percussivas ampliando o contágio rebolante e provocante, ela é uma faixa indicada para os momentos lascivos de entrega e desejo.
Trazendo, até o momento, a abordagem mais eletrônica presente em Neon Heights, Tunneling vem com uma sonoridade que, apesar de acelerada, consegue fazer o ouvinte reexperienciar a comoção dançante de Macarena, single de Los Del Río. Na forma de uma obra instrumental, a faixa funde ingredientes do disco, da new wave e do synth-pop em uma melodia propícia para se ouvir enquanto se exercita.
Apesar de ser igualmente curta em duração, Tall, Dark And Dangerous vem com camadas líricas que intensificam a volta da sensualidade e do provocante, mas sem o denso caráter lascivo presente em Pedal To The Floor. What It Feels Like já surge introduzindo à receita rítmica raspas de chiptune, enquanto prevalece a acidez sintética e um beat bem pronunciado que induzem o ouvinte à dança. Ou, ao menos, a mexer o corpo no compasso rítmico indicado pela lounge music que transpira da estrutura estética da canção.
Como era de se esperar, a faixa-título é a de melodia mais bem trabalhada. Macia, harmônica, aconchegante e delicada, ela é marcante e melosa em sua essência dramática pela inserção de um violino choroso e densamente lacrimal. Assim, existe um denso afastamento da dança e um grande mergulho no dramático.
De maneira geral, Neon Heights é um álbum que brilha em sua proposta de fundir o universo eletrônico à sensualidade e ao swing de gêneros musicais pretos, como o soul e o R&B. Ainda experimentando a new wave, o chiptune, o funk, o trap e o synth-pop na sensualização de suas camadas melódicas, o álbum é capaz de comover o ouvinte com flertes a uma estruturação mais orgânica, mesmo sendo um produto majoritariamente dançante e sintético.
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