Desde 1999, quando lançou o elogiado “Traficando Informação”, seu disco de estreia, MV Bill, 47, não descola seu rap da crônica sobre violência policial, fome, racismo, sexo, chacinas, descaso das autoridades e todo um leque de problemas e adversidades que quem vive nas periferias brasileiras tem de conviver dia após dia. Ele tinha 25 anos, e suas músicas falavam da realidade que via na Cidade de Deus, onde cresceu achando que não passaria dos 40.
A denúncia e a crítica social sempre estiveram na ponta da caneta do rapper, escritor e ativista, que nunca viu o Brasil como um paraíso tropical. “Os pretos sempre sofreram racismo, a polícia sempre foi violenta, e a negligência com a periferia sempre existiu”, ele comenta. No entanto, os últimos tempos têm sido estranhos e ruins demais, mesmo antes da pandemia, que só fez acentuar as desigualdades, a miséria e o colapso econômico, social e sanitário.
“Por mais que eu já tenha pensado e cantado o Brasil várias vezes e tenha falado sobre coisas que impedem nosso crescimento, nunca imaginei que a gente pudesse chegar a esse ponto. Negacionismo, fake news, discussões paralelas que não importam… O momento do Brasil, agora, é surreal”, pontua, em conversa com o Magazine.
Em agosto de 2020, MV Bill reuniu 17 canções em “Vivência”, seu 11º álbum. Ele até poderia esperar um intervalo maior para lançar outro disco, mas diz que sua cabeça não para um segundo sequer. Com muita coisa presa na garganta, em janeiro o rapper começou a escrever um punhado de novas canções. Doze delas estão em “Voando Baixo”, que chegou recentemente.
Diferentemente do último trabalho, agora MV Bill optou por não soltar singles antes de lançar o disco cheio. Além de trazer suas ideias para a roda de discussão, o compositor ouviu seus seguidores nas redes sociais. “Eles começaram a me pedir um álbum que tivesse início, meio e fim, e comecei a achar legal a ideia. Quis criar um trabalho que as pessoas ouvissem do início ao fim”, conta. Confira:
Fonte: Bruno Mateus (O Tempo)