Um grito ardente e esquizofrênico rompe o silêncio com grande toque de deboche. Logo em seguida, um sonar vocal extremamente debiloide surge causando certo grau de estranheza no ouvinte, que ainda não entende muito bem o que, de fato, está acontecendo. Esse cenário esdrúxulo, que beira aquilo que pode ser chamado de arte povera musical, é aquele que define todo o contexto de Hip So Hop (Cappuccino), uma música dissonante, sem sentido e até mesmo atordoante. Porém, é de se espantar que, diante esse sonar extremamente acelerado que soa abobalhado, existam linhas líricas com um enredo. Sim, elas existem e estão aí. Ao se atentar bem ao som quase enlouquecedor, o ouvinte consegue perceber a pronúncia de palavras sob uma cadência propositadamente incompreensível. Ainda assim, Hip So Hop (Cappuccino) guarda um roteiro verbal surpreendentemente motivacional. A partir dele, o ouvinte acaba sendo instigado a refletir sobre a forma como leva a vida. Afinal, a canção vem com o intuito de estimular o aproveitamento daquilo que é simples, a ter a coragem de ser quem se é, a manter os amigos e familiares sempre próximos e, principalmente, a caminhar pelos dias sempre com um sorriso no rosto.
Vozes ondulantes e uivantes surgem fazendo um som capaz de se tornar uma espécie de silêncio. Um sonar quase inconsciente que ressoa de maneira hipnótica. Junto dele, subgraves e chimbais sincopados em suas cadências lentas entram em cena não apenas trazendo o ritmo, mas oferecendo requintes de lucidez em meio ao torpor escrachado sugerido pela canção. Para aqueles que pensam que a presente faixa pode surpreender no quesito lírico, seguindo a mesma receita da antecessora, a decepção vem sem dó. Afinal, My Ass Is The Best traz enredos verbais monoversáveis que apenas repetem seu título. Em contrapartida, a presente faixa vem mais madura no quesito rítmico, pois evidencia a ambiência rap na qual está inserida.
Enquanto o sonar estridente da caixa é ouvido em golpes gradativamente mais precisos, uma voz surge em falsetes já inserindo a primeira linha lírica. Pela agudez do tom produzido, vem um engasgo, o que já traz uma conotação humorada. Logo que uma tosse reequilibra as cordas vocais, o ouvinte se surpreende por escorregar em um profundo mergulho em um ambiente dançante e de base funk. Trazido através de uma guitarra swingada e de um baixo de groove saliente, o gênero domina por completo a melodia de I Don’t Give A Funk. Parece besteira, mas dentro de seus versos curtos e de mensagens aparentemente rasas, existe, aí, um recado importante: o de não ligar para a opinião alheia, aos julgamentos e às posições que chegam no intuito de desmoralizar, diminuir e menosprezar o indivíduo. O que I Don’t Give A Funk traz é um lembrete claro: viva a vida do seu modo e da forma como acha que deve ser, sem dar ouvidos a quem não nos quer bem.
Ousadia e audácia podem parecer palavras sinônimos, mas no caso de Best Shit, elas, curiosamente, se complementam. Afinal, o álbum não traz um Cash U apenas cômico e debochado. Ele traz o grupo se utilizando desses artifícios para trazer mensagens motivacionais com o intuito de promover uma experiência de vida mais leve, despreocupada e bem-humorada.
Apesar de ser composto por 11 faixas, Best Shit faz com que o ouvinte percebe sua intenção a partir de suas três primeiras músicas, com especial menção à faixa de abertura que, apesar de incompreensível, é ela quem mostra o humor fundido em mensagens reflexivas.
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