O que a canção de abertura oferece não é apenas um profundo torpor, mas, sim, uma intensa imersão a uma espécie de êxtase, de transcendentalidade. De um bem-estar tão denso que chega a até mesmo ser tátil. Delicada, aveludada e embriagante, a canção propõe ao ouvinte se dar a chance de entrar em estado de introspecção profunda. Afinal, Chandra é uma canção épica pela sua duração e, também, pela experimentação e sensibilidade que desperta no espectador.
Em Autophones, a proposta já parece ser outra bem diferente daquela ofertada na canção anterior. Afinal, a sonoridade é ligeiramente mais orgânica e posicionada em camadas mais superficiais da melodia, a ponto de ser possível ouvi-la a um nível interessantemente mais racional. Ondulante e hipnótico, o sonar, o qual parece provir do dedilhar da guitarra, consegue manter o mesmo grau de introspecção de Chandra, mas por meio de sua linearidade estética que soa entorpecente. Explorando apenas as texturas do azedume e de uma maciez enganadora, Autophones é a perfeita demonstração do minimalismo e hipnotismo estruturais.
Ela nasce ainda mais transcendental, delicada e esotérica que Chandra. Gentil, educada e com um sabor adocicado sem ser apelativo ou grudento, Further Yet traz uma guitarra distorcida em seu riff áspero e opaco como forma tanto de mostrar o caos rompendo a calmaria, quanto o chamado da lucidez e a consequente quebra de torpor. Com chiados abraçando o escopo melódico de forma a pincelar notas de lo-fi na conjuntura sonora, a música é como a sonorização do amanhecer, da luz solar destacando a silhueta das montanhas em um horizonte não tão distante.
É verdade que Permission To Feel é um disco com um total de oito faixas, mas ao se ouvir as três primeiras, o espectador já tem a noção do que se trata. É um material introspectivo, que explora texturas transcendentais e esotéricas tanto quanto a sensibilidade da delicadeza, do torpor e do conforto. Um álbum em que a lucidez está frequentemente em um embate contra embriaguez e a ausência de consciência.
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