A delicadeza é algo estonteante. Uma qualidade. Uma sensação capaz de proporcionar várias outras, como o aconchego, o conforto e a compaixão. A doçura é outra esfera que pode até ser um sinônimo, mas sua significância é mais ampla, pois induz algo mais humano, mas respeitoso. É a gentileza e a educação juntas. E a forma como o piano se movimenta desde o início imediato de Special Guest traz toda essa conjuntura emocional, com um adendo interessante, que é a inserção de pitadas melancólicas em meio à sua leveza. Narrando essa atmosfera minimalista e intimista está uma voz de fundo fino, mas de essência rouca. É Jessy Elsa Palma colocando, na canção, um enredo que metaforiza a figura do Sol como um personagem onipresente responsável por dar à protagonista a motivação necessária para seguir o rumo da vida, enfrentando suas intempéries e suas desarmonias.
Uma conjuntura de notas graves, mas educadas e leves, funciona como a personificação do anfitrião que recebe o ouvinte nesse novo cenário. Ligeiramente swingado e com uma maciez despropositada, a nova canção é imbuída em uma estrutura melódica linear que é abraçada por uma interpretação lírica aparentemente apática, sem vida. Curiosamente, essa interpretação dá a entender uma espécie de introspecção autoimposta. Um vaivém entre lucidez e loucura. Não à toa que, em Theresa, Jessy fornece um enredo sobre uma garota esquizofrênica, julgada socialmente e relegada à solidão. Um indivíduo que convive constantemente com seus medos e inseguranças, mas que anseia pela libertação de toda a sua impulsividade há muito reprimida.
Um sonar despropositadamente excitante pela simples razão de incutir na introdução um charme até então inexperienciado em Beauty Of Change. Vindo do contrabaixo, ele consegue, sem dificuldade, comunicar ao ouvinte uma fluidez para o campo estético do jazz. Acompanhado por um piano de notas mais suaves e por uma bateria de levada macia e fluida, ele é capaz, inclusive, de incutir certos toques de frescor na melodia, ainda que esta esteja em seu processo de formulação. Convidativa, swingada e sensual, mas sem qualquer menção propriamente sexual, I Surrender é a atração, é o romance, é a faísca nascendo por meio de uma paixão evidente e inevitável. No entanto, para aqueles que pensam que a obra diz respeito a um casal tradicional, ledo engano. I Surrender é uma audaciosa e primorosa obra que incita, que instiga, que motiva o mergulho do indivíduo pelo árduo e profundo processo de autoconhecimento.
Com poucos elementos, se bem trabalhados, é possível fazer grandes coisas. E na música, essa afirmação não se aplica de forma diferente. Afinal, com limitados instrumentos, é possível construir belas melodias, tocantes harmonias e uma simetria sensorial profunda. Com Beauty Of Change, o KLT & Jessy Elsa Palma alcançou tal feito em primeiro lugar a partir do anúncio de Locked In Paradise (Radio Edit) e, em segundo, com o lançamento do single Theresa. Tudo isso com a aptidão de fornecerem delicadeza, humanidade, compaixão e doçura trazidas de maneira madura já nas três primeiras faixas do álbum: um material suave em sua estrutura, mas denso em suas mensagens verbais.
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