Ela nasce solta, fresca, ligeiramente swingada e com grande requinte de regionalismo brasileiro. Com base rítmica calcada em um dos gêneros musicais mais tradicionais do nordeste, o baião, trazido, principalmente, por meio dos tilintares ritmados do triângulo fornecido pelos percussionistas Jeff Busch e Michaelle Goerlitz, Little Baião se matura como uma obra doce e serena. Nesse ínterim, o trombone de Jeff Cressman vai acompanhando o vocal de Ed Johnson como um backing vocal aveludado, uníssono e de essência densamente delicada.
A guitarra e o bandolim de Scott Sorkin se unem nessa introdução ainda mais fresca que todo o frescor presente na abre-alas de For Every Living Thing. Aqui, os instrumentos se combinam no oferecimento da delicadeza, da maciez, de um aroma floral, de um sabor adocicado e de um swing gentil e contagiante. Agraciada por uma bem estruturada combinação de elementos percussivos que, muito mais que indicar a cadência rítmica, oferta, também, diferentes texturas à ambiência rítmico-melódica, No Stopping The Beat (New Day Rising) explode em um refrão de essência festiva. A partir daí, a obra se mostra quase como uma veneração à vida. É a gratidão, a felicidade, a satisfação em poder experienciar a arte de viver.
Seu despertar é curioso, mas também interessantemente grandioso. Afinal, por mais que a maciez estrutural indica um feliz flerte com a MPB, a forma como o piano de Jennifer Scott se movimenta com doçura incute, tanto no contexto rítmico quanto no melódico, agradáveis noções de jazz. Com violão de frases serenas e um Johnson se aventurando por entre a pronúncia lírica a partir de falsetes bem executados, a faixa-título não esconde o tilintar do triângulo e o deixa ter certo grau de brilhantismo em seu contínuo despejar de regionalismo. Conforme ela vai evoluindo e ganhando uma harmonia mais suave, a música vai mostrando ao espectador que, muito além da MPB, ela se envereda, principalmente, nas raízes da bossa nova, o que a deixa charmosa e atraente.
Seu início é como o ato de entrar em um sonho. De essência fantasiosa, mas densamente delicada e com requintes de um transcendentalismo entorpecente, a canção tem sua introdução regida, principalmente, pela união dos elementos percussivos e do violão. É aqui que os backing vocals de Jennifer e Tara Caldwell se unem em um coro melódico e hipnótico que soa como o canto da sereia ressoando pelas profundezas do oceano. Entre o compasso do chocalho e o frescor reconfortante e natural do pau-de-chuva, Coral Sea é ainda agraciada pelo veludo do trombone em momentos específicos e necessários para que possa assumir uma arquitetura contagiante em sua instrumentalidade calcada na maciez e no torpor.
Não há o que dizer de For Every Living Thing se não o trazer como sinônimo das definições cosmopolita e multicultural. Afinal, o ouvinte é capaz de perceber seu experimentalismo rítmico-melódico já a partir da audição das quatro primeiras faixas. Com elas, não apenas o frescor e o veludo são evidenciados, mas também o swing, a malemolência e o regionalismo propriamente brasileiros. Um álbum charmoso de musicalidade madura e atraente que mostra a sensibilidade e a sincronia de Ed Johnson com o Novo Tempo.
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