Música instrumental sempre foi uma ousadia. Nos tempos atuais é ainda mais. Isso porque o mercado mudou, e o consumo de música seguiu o dinamismo e caos que se tornou a rotina diária, ou seja, exigem tempo, coisa que as pessoas infelizmente parecem não ter mais.
Logo, priorizaram-se as músicas mais descartáveis, imediatas e formatos menos cheios, aliás, os singles tomaram conta das plataformas. Neste último caso não há problema nenhum, afinal o formato é o que menos importa quando se tem qualidade. Mas, são apenas constatações de fatos para que a gente possa chegar no tamanho da ousadia que é este mais novo trabalho do Cochrane.
O projeto leva o sobrenome de seu mentor, o músico, produtor e compositor Robert Cochrane Mcmillan Jr e prima por fazer uma mescla de música eletrônica ambiente. São composições longas e versáteis, sempre com um clima atmosférico e batidas graves suaves, além de elementos distintos de cada uma.
Intitulado “Lagerstätte”, que significa algo como ‘depósito’, na língua alemã, tem quantidade de EP e tamanho de álbum, já que as quatro composições têm em média 7 minutos. Mas, como dito antes, não se trata de algo maçante, e sim muito versátil, o que faz a audição do trabalho ser prazerosa.
Porém, estão aqui os quesitos da ousadia de Cochrane, que abriu mão de um lançamento mais breve, traz música instrumental e de longa duração. Isso é um verdadeiro oásis para os apreciadores de boa música em geral, música instrumental e da forma de consumo mais detalhista e atenciosa, como nos velhos tempos.
Os velhos tempos, aliás, só não ficam de acordo com a sonoridade apresentada, pois o que temos em mãos é algo que fica entre o moderno e atemporal. Afinal de contas, tudo aqui é comandado eletronicamente, desde as batidas, passando pelo fundo atmosférico e os sintetizadores, na maioria, com sons tubulares. Ainda há vocalizações, mas como complemento e esporádicas, no estilo operístico e discretas.
As quatro músicas do trabalho parecem se completar e, mesmo trazendo uma sonoridade baseada nas máquinas, não transmitem um som urbano ou industrial, pelo contrário, o que ouvimos aqui serve para um som ambiente, nos remete à natureza e também para a meditação. Aliás, é bem definido na apresentação do disco, como ‘sons do tempo geológico, pensamentos instrumentais, células turbulentas’. Fato é que Cochrane, da forma mais natural possível, consegue entregar um trabalho que supera todos os obstáculos das tendências musicais e de mercado atuais.
https://open.spotify.com/intl-pt/album/1ojJtm3x04Owxqz6Dn2RGu?si=oshcuOrsQUeJveR3E4714A
https://cochranesound.com/home
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