Por entre a proteção dos cobertores quentes, o que se ouve é a chuva caindo do lado de fora. Da janela de vidro embaçada, a paisagem é cinza. Sem vida. Melancólica. O vento faz as árvores valsarem em uma melodia quase fúnebre através dos amaciados rebolares de seus galhos desfolhados. No chão, é como se cada ponto de acúmulo de água pelo gramado fosse uma passagem direta para determinadas lembranças que causam certo senso de dor.
Essa é a paisagem imagética que as primeiras notas do piano oferecem ao ouvinte. Se movimentando solitariamente nos momentos iniciais imediatos, elas já trazem uma energia entristecida e embriagada em um certo toque de desmotivação e até mesmo desesperança. Conforme vai se desenvolvendo, a canção dá passagem para que violino e violoncelo entrem em cena e insiram suas respectivas contribuições ao aspecto melódico. É aí que Late August se torna tocante e dramática.
De harmonia emocionante a ponto de fazer os olhos do espectador marejarem e seus pelos arrepiarem, a música traz consigo, inclusive, um curioso toque épico que a deixa com clima histórico marcante. Lancinante em sua narrativa instrumental dramática, inquietante e dolorosa, Late August pode soar tanto como a chegada de uma tragédia iminente quanto a de um senso de esperança inesperado ou de uma espécie de elevação espiritual. O ouvinte dirá por si.
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