A harmonia já aparece no auge de sua forma. Sua força, travestida em uma delicadeza espectral, captura a atenção do ouvinte como uma sessão de hipnotismo incontrolável e, inclusive, irrecusável. Rapidamente, a união do veludo floral dos violinos com o grave e seco do violoncelo formam uma silhueta melódica que evidencia, de forma cristalina, o verdadeiro rosto da melodia. É então que o ouvinte se surpreende com a familiaridade daquela que é uma das faixas instrumentais usadas na trilha sonora da saga Piratas do Caribe. A partir daí, Pirates Of The Caribbean exorta não apenas certo grau de nostalgia, mas também representa a estrutura de uma melodia folk céltica.
Aqui os violinos surgem chorosos, sofridos. Lacrimais. Ainda que embebidos em um veludo escultural, a canção nasce dramática, mas logo vai assumindo contornos ligeiramente mais alegres e sorridentes. Ainda assim, a canção acaba realizando uma movimentação narrativa em looping de forma a regimentar o drama e a melancolia como emoções primordiais de seu enredo. É assim que La Valse d’Amélie captura não apenas a atenção, mas, também, o coração do ouvinte.
É de uma beleza diferenciada. Tocante, emocional e espirituosa, a melodia que se cria nessa nova faixa é de uma delicadeza tamanha que faz não apenas os pelos do corpo se eriçarem, mas também deixa que as lágrimas escorram livremente pelo seio da face. Assim que se vê perante uma pausa dramática, o ouvinte ouve um rápido respiro que o leva para um ambiente que reforça toda aquela beleza cristalina e pura vislumbrada na introdução. Com o auxílio de outro violino e do violoncelo, Braveheart atinge seu ápice narrativo com uma textura aveludadamente floral, pura e quase beática.
Para os cinéfilos de plantão, Cello Scenes é um prato cheio. Claro que não apenas aos amantes da sétima arte. Afinal, ele também é capaz de encantar pelo seu classicismo melódico que, graças à sensibilidade de Marco Pescosolido, consegue dar corpo e alma às trilhas sonoras dos filmes mais marcantes. E isso fica evidente já nas duas primeiras canções do material, pois elas, além de trazerem harmonias grandiosas, vem repletas de uma fragilidade estrutural notória.
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