Seu início é doce, acalentador, confortável. Ainda assim, ele consegue extravasar um senso embrionariamente dançante por meio de uma melodia inicial suavemente entorpecida. Conseguindo transmitir seu tempo rítmico a partir do som sereno do chocalho, o qual dá uma textura aveludadamente áspera ao contexto, a canção, conforme vai se desenvolvendo, amadurece o conceito de embriaguez percebido já durante a sua introdução. E nesse processo, o aveludado e lento sobrevoo do saxofone tem grande contribuição. Surpreendendo tudo e a todos, porém, Outside sai de uma aparente acid house ao estilo daquela desenhada por Guru Josh em seu respectivo single Infinity, e mergulha, com a entrada de Magajie e seu timbre grave dominando as linhas líricas, em uma curiosa experimentação rítmica inspirada no reggaeton. Porém, aqui o contexto rítmico-melódico é regado a subgraves que perambulam por entre toques tropicais.
O som do vaivém da maré moldando a areia da praia causa uma sensação agradável de tranquilidade, de sossego. Só por ela, o ouvinte também se sente capturado por um profundo senso de torpor nostálgico que o abraça como um amigo que, delicadamente, lhe oferece sua compaixão. Incontestavelmente macia e fresca graças à combinação perpetrada entre violão e o beat, Memories, conforme amadurece sua estruturação rítmico-melódica, passa a oferecer ao ouvinte um ambiente convidativamente dançante que segue bebendo da fonte da acid house.
Diferente da canção anterior, não é o mar que permite ao ouvinte se sentir relaxado e extasiado. Ao mesmo tempo, porém, nessa mesma inspiração sensorial, a nova introdução coloca no som da água a função de promover tal gosto de tranquilidade. Com direito a notáveis pitadas de lo-fi, Cagi Mudre Vou é uma canção que, sem demora, já oferece agradáveis, mas também surpreendentes, sabores ácido-açucarados sintéticos. Curiosamente, porém, a canção, feita a três mãos, sendo Watermelon Boy com a participação especial de Bigwiltz e Christonite Boginikua, oferece ao espectador uma agradável, fresca e contagiante ambiência orgânica promovida através da percussão. Multicultural e multinacional, Cagi Mudre Vou se apresenta como a primeira canção de fato significativa de The Wo Signal. Afinal, fundindo as musicalidades da Nigéria e das Ilhas Fiji por meio de seus convidados, a canção promove não só cosmopolita, mas receptiva e estruturalmente natural em suas especificidades de texturas rítmicas locais.
Se influenciando na multiculturalidade brilhantemente exercida na canção anterior, o Watermelon Boy apresenta Gbona, uma canção aquém de qualquer menção de música eletrônica. Sim, existem, de fato, traços eletrônicos em sua melodia, mas o que salta aos ouvidos e o que a torna harmonicamente contagiante é o seu ritmo calcado no afrobeat, mas, principalmente, a forma como o nigeriano Green Baker desenha a cadência lírica com seu timbre grave. Com ela, a canção se torna simples, mas bela em sua simplicidade estrutural.
Não é apenas um álbum experimental. Com The Wow Signal, Watermelon Boy extrapola as barreiras do conservadorismo musical e promove uma contemplação à pluralidade do som, das texturas rítmicas, das ambiências melódicas. Multicultural e cosmopolita, o álbum une nações e estilos musicais de forma fluida e agradável, ao mesmo tempo que não deixa escapar a sua base eletrônica. E isso fica evidente já em suas primeiras quatro canções, mas, principalmente, nas faixas Cagi Mudre Vou e Gbona.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/12Undz1Xa4IdpGbHLz3THy
Instagram: https://www.instagram.com/watermelon__boy/