É como na luz do Sol sendo evidenciada por detrás das colinas ao longe. Enquanto o céu se apresenta em seu esplendor de cores degradês, que vai do crepuscular ao princípio de energia, a vida começa a acontecer com a chegada da brisa da manhã. Introspectivo e entorpecente, esse momento inicial imediato sofre, pela posterior entrada da bateria, a tentativa de recobrar o senso de lucidez a partir da levada fluida e quebrada do instrumento em sua forma ligeiramente amaciada. O curioso é que, mesmo assim, a embriaguez segue seu protagonismo conforme o baixo entra assumindo certo grau de linearidade com seu groove bojudo e ligeiramente ondulante e o sintetizador produz um sonar astral em seu dulçor. Eis então que Icarus Phoenix enfim entra em cena preenchendo as camadas líricas com seu timbre afinado e agradavelmente agridoce. Com o auxílio da presença da guitarra em seu riff cuidadosamente azedo, Phoenix faz de The Things You Never Told Me uma obra de cunho reflexivo-introspectivo transcendental em que traz um personagem tentando lidar com a rejeição, enquanto busca na memória sinais que já mostravam uma heterogeneidade nos sentimentos presentes no relacionamento.
Seu despertar é curioso. Afinal, ele não traz um escopo folk aos moldes estadunidenses. Ele apresenta, sim, um aroma sertanejo capaz de representar o clima árido do sertão brasileiro através da forma como o violão se movimenta. O interessante, nesse ínterim, é notar como esse instrumento, na companhia da levada da bateria, consegue formar, ainda, uma percepção sensorial mórbida por meio de uma melodia que soa como uma marcha fúnebre. Ao mesmo tempo, porém, ela chega a incitar noções de aprendizado, maturidade e superação. Assim sendo, Live. Give. Lose. Grow. se torna uma canção que caminha por terrenos melancólicos e viscerais em busca da cicatrização de suas feridas emocionais.
Nascendo fresca e ligeiramente swingada, High Tide, logo no seu escopo rítmico-melódico introdutório imediato, chega a promover uma maciez reconfortante até então inexperienciada no álbum. Soando como um amigo oferecendo seu ombro e sua compaixão, a canção é capaz de fazer as lágrimas escorrerem livremente pelos olhos do personagem, o qual, na presença dessa figura que lhe inspira confiança, deixa fluir todas as emoções represadas através de um necessário senso de proteção. High Tide, portanto, se mostra uma espécie de balada melódica, sensitiva e aconchegante que chega a emocionar pela sua leveza semi-acústica.
As dores do amor são sofrimentos de difícil cura. Leva tempo, esforço e um bom equilíbrio emocional para cicatrizá-las da maneira ideal. Às vezes, isso parece uma tarefa impossível. Às vezes, a coragem precisa falar mais alto para fazer o indivíduo compreender a necessidade de se libertar do calabouço de lamúrias.
I Should Have Known The Things You Never Said é um álbum autobiográfico que traz um personagem nessa ânsia de superar seus dilemas emocionais. Oriundos de relacionamentos rompidos, eles geram consequentes sensos de baixa autoestima e autoconfiança, bem como a rejeição. E isso fica bem claro logo através de suas três primeiras faixas.
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