O piano vem na função de representar, de maneira solitária, a introdução melódica. Com ternura e dulçor, ele caminha pelo ambiente com uma leveza valsante e delicada. Surpreendentemente, porém, em um momento súbito, seu sonar se cala. Segundos de silêncio. E então, a canção se transforma em um R&B sensual capaz de ser fresco e contagiante. Nesse processo, não apenas a voz doce e sutil de Miist coopera para sua afirmação, mas também, e, talvez, principalmente, o baixo com seu gingado saliente e provocante. Conseguindo abranger ambiências atmosféricas e esotéricas ao seu contexto melódico, Move Your Body Slowly é uma canção que narra o desejo e a atração sob uma verve fragilmente libidinosa mascarada pelo que, de outro lado, soa como a descrição de uma dança sensual.
A guitarra elétrica se torna o elemento protagonista durante o novo amanhecer. Com seu riff de afinação viva e de temperatura quente, ela fornece um swing mais enaltecido, tropical e veranista em relação àquele oferecido na canção anterior. Enquanto Miist vai se apossando do microfone e desenhando o enredo lírico de forma fresca e chamativa, o escopo rítmico vai arregimentando a canção no espectro da música latina por meio de seu aprofundamento na lambada. Com uma atmosfera solar capaz de rememorar aquela construída por Santana em seu respectivo single Smooth, Let The Music Fill You atinge o refrão sob influências do pop de modo a torná-la um produto irresistivelmente dançante em meio a um lirismo que exorta o poder da música sobre o indivíduo.
A presente introdução surpreende o ouvinte. Não pela grandeza elementar ou pelo grau de excitação. Aqui, ela se destaca por ser o primeiro amanhecer até o momento a ser desenhado sob uma estrutura intimista e levemente dramática. Delicada em sua máxima essência, a canção chama a atenção, também, por trazer Michael Walden, com seu timbre afinado, rasgado e ligeiramente grave, dividindo o microfone com Miist. Com seu auxílio, It’s Too Late To Love You apresenta dois pontos de vista em relação ao fatídico fim de um relacionamento. Um relacionamento que, aqui, não apresenta sequer uma chance de recomeço, o que o torna uma lembrança abrangentemente melancólica.
Ainda que o piano forneça uma introdução imediata melancólica na mesma sintonia energética da canção anterior, o ambiente, aqui, é subitamente transformado em algo dançante. Misturando referências do soft rock com um curioso frescor vindo da house music, a presente composição traz a dança como um antídoto para mascarar a dor de um emocional abalado. Como a música mais curta do álbum, One More Time, de certa forma, funciona como uma continuação de It’s Too Late To Love You, uma vez que, aqui, a personagem se encontra em uma aparente recaída emocional por demonstrar reais interesses de tentar reatar o relacionamento.
De fato, The Songs From The Living Room é um álbum marcante. Marcante pelo seu frescor, pelo seu swing. Marcante pela sua ampla experimentação melódica. Marcante pela sua profundidade sensorial. Não é à toa que, no decorrer do material, o ouvinte vai da felicidade à tristeza em uma linearidade lisa, sem qualquer traço de deformidade.
Ainda assim, ele é um produto densamente dançante que faz o ouvinte se sentir instigado a dançar e a mexer o corpo ao seu próprio modo. Afinal, ritmos como a lambada e o R&B são grandes auxiliadores nesse processo, que pode ser encontrado já por entre suas quatro primeiras composições.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/2QbmFpK112XWDmRDZHgVq0
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