De uma maneira desajeitada, mas interessante, a bateria é o elemento responsável por puxar a introdução da faixa de abertura. Após seu golpe inicial, a canção passa a ser regida por uma maciez refrescante e delicada estruturada por uma guitarra de presença educada e de um banjo charmoso. Com essa estruturação, a obra já consegue extravasar sua essência campestre ao ouvinte com facilidade. Depois de súbitos instantes de silêncio, a faixa segue seu fluxo por meio da presença de uma voz feminina grave, forte e consistente. Eis Samantha Rae entrando em sintonia com a agora presença precisa da bateria. Com essa estruturação, Taking Me Down escorrega para um refrão com ânimo e uma harmonia estimulante que acompanha o ouvinte por entre um enredo que explora um relacionamento em que uma das partes é ávida por liberdade, enquanto, a outra, traz a necessidade do companheirismo para se sentir completamente preenchida.
O vento sopra e seus murmúrios ecoam por um ambiente inóspito e árido. O oeste é solitário em meio ao calor alucinante e a secura atordoante. Ainda assim, existem sinais de lucidez no viajante que ousa trilhar os caminhos do desconhecido através das terras monocromáticas e quase ausentes de vida. Ainda que o horizonte não esteja tão distante, o suor é o sinal da luta, mas a perseverança é o sinal da motivação. Esse cenário imagético é incentivado, em grande medida, pela inserção do violino na receita melódica junto ao banjo, à guitarra e ao violão. Evoluindo para um cenário rítmico-melódico em que evidencia sua natureza delicada e aromática, Gaslighter leva o ouvinte para um refrão enérgico e contagiante em sua forma mais pura de fusão entre o pop e o folk. Sob essa estruturação, a canção é capaz de ofertar um lirismo de dupla interpretação. Por um lado, é romântico, em que traz um personagem altivo que transforma todos os lugares por onde passa e por onde, inclusive, mexe com os corações alheios. De outro, dá a entender que Samantha esteja se utilizando de uma veia romanceada apenas para deixar mais comercial a sua crítica contra a exploração do petróleo no interior do país.
Na nova introdução, existe o máximo de experimentação sonora com o intuito de causar um suspense intrigante. Nesse ínterim, o que se destaca é o veludo agudo e tremulante da guitarra em efeito lap steel, elemento que, juntamente ao banjo, ambienta o ouvinte em um cenário profundamente sertanejo. Se maturando através de uma postura imponente evidenciada pela interpretação lírica de Samantha, Pinocchio é marcada por um trabalho mais profundo no campo harmônico, ainda que esse quesito esteja bem dividido e espalhado na canção. Sob tal luz, a cantora usa a canção como meio de abordar a dor de um coração partido pela decepção. Ainda assim, a protagonista se mostra consciente e emocionalmente madura a ponto de saber quem, de fato, estava errado.
The High Road pode ser entendido como um disco solar ou um material experimental. Ou, ainda, os dois. Afinal, através dele Samantha Rae optou por trazer o mais puro folk em meio a uma base rítmica pop. Assim, se construiu um produto contagiante, aromático, cheio de texturas e ambientado em um cenário completamente sertanejo.
Cada instrumento usado, portanto, remete ao folk, ao sertão, ao oeste. Por outro lado, além da estruturação rítmica, os conteúdos líricos calcados em relacionamento e dores do coração também são capazes de fazer o ouvinte identificar as generosas contribuições do pop no desenrolar do álbum. Tudo possível de ser observado já a partir das três primeiras faixas. Um disco contagiante que mostra a gana de Samantha em fazer seu nome, agora, também na esfera do folk.
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