O violão, por si só, já garante à introdução uma textura delicada e uma atmosfera tranquila, suave, leve. Com a entrada fragilmente uivante da guitarra lap steel, a ambiência garante para si um aroma adoravelmente bucólico que deixa o ouvinte entorpecido em meio ao veludo recém-oferecido. É nesse momento que uma voz masculina de timbre grave entra em cena no intuito de começar a desenhar o enredo lírico. Eis Todd Hearon introduzindo um toque sutilmente áspero no entorno da maciez embriagante que o escopo melódico construiu. Sob essa receita estrutural, Deadman’s Cove apresenta um enredo curiosamente dramático a partir da ilustração de um homem desesperançoso e desmotivado que se sentiu, de alguma forma, traído pela religião, pela sua figura maior. Ainda assim, esse mesmo personagem vive uma dualidade entre o desejo inconsciente pela morte e a necessidade de uma injeção de vida em sua jornada terrena.
Um chiado é ouvido ao fundo, mas vai ganhando gradativa presença a ponto de evidenciar sua essência aguda em meio ao silêncio até então inquebrável. É nesse momento que o violão, com tamanha delicadeza e gentileza, entra em cena sob uma movimentação amaciada e melódica. Capaz de disseminar um senso curiosamente reconfortante, o instrumento dá a liberdade para que o lirismo comece a ser apresentado. Aqui, Hearon entra em cena sob uma interpretação falada, enquanto o chimbal com seu sonar seco vai entregando texturas rítmicas macias à composição. Quando o vocalista passa a assumir estruturas de canto mais melodiosas, Dark Place é uma interessante narrativa que aborda a sensação pegajosa e incômoda de não se sentir pertencente nem ao próprio corpo, bem como evidencia o poder da mente em sua essência manipuladora e em relação à criação das emoções sentidas.
A introdução que se segue oferece ao ouvinte uma roupagem que, até o momento, é aquela de viés mais alegre, ainda que mantendo certo grau de senso entorpecente por entre a melodia construída. Com direito a um novo integrante no escopo sonoro, a canção, a partir do teclado em sua reprodução do sonar do hammond, acaba garantindo uma crescente harmônica que coopera com a elaboração de uma atmosfera bucólica, mas, também, delicada. Assim que acessa seu primeiro verso, a obra passa a ser regida pela união de instrumentos de corda que se dividem entre o oferecimento de pitadas de frescor e veludo que incitam um agradável, mas talvez não tão verdadeiro, senso de conforto. De caráter curiosamente dramático trazido pelo violão, Looking Glass é uma canção em que parece trazer a decepção de uma sociedade desiludida frente as promessas de vida próspera. Nesse ínterim, a personagem em questão se apoia em entorpecentes na tentativa desesperada de sanar suas dores e suas decepções, coisas que devem ser superadas para a aquisição de um emocional mais equilibrado e consciente.
Impossible Man é um disco que explora as texturas bucólicas por meio de um instrumental delicado e, por vezes, minimalista. Caminhando por entre cenários melancólicos que permitem uma espécie de introspecção rumo a um caminho despropositado do autoconhecimento das próprias emoções vivenciadas, o trabalho se ambienta no bucólico, no frescor e no veludo.
Como forma de oferecer conforto e aconchego frente aos sofrimentos que, por vezes, assolam seus personagens, algo que é perceptível já a partir de suas três primeiras canções, Impossible Man é um exemplo de fusão entre um estilo lírico melódico com outro mais narrativo. Tudo acaba soando como diferentes estratégias para garantir um elo rígido entre canção e ouvinte, algo que, felizmente, parece funcionar.
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