Os chiados que preenchem a introdução em seus momentos iniciais imediatos já lhe conferem uma noção de crueza saliente. Se mantendo em voga enquanto o piano desfila suas notas graves, mas pronunciadas de maneira romanceada, esses mesmos rangidos acabam funcionando como um curioso artifício para manter o ouvinte no controle de suas faculdades lúcidas.
Tal detalhe se torna importante, uma vez que a atmosfera melódica da canção, ainda que minimalista, consegue encarnar uma energia tão doce e apaixonante que o torpor chega a ser um desejo quase inconsciente como um método para amplificar esse senso de deleite. Nesse momento é que o ouvinte se percebe na companhia de um vocal masculino de timbre grave que tenta trazer, em sua performance, também esse clima de paixão.
Eis Jay Roecker tornando, agora, floral, aquela paisagem bela e encantadora do amor. E para auxiliar esse processo, violinos são notados de maneira cuidadosamente inserida na base melódica ao ponto de criar uma suavidade esvoaçante que soa como uma cortina de veludo valsando no compasso do vento.
É assim que Roecker ousou honrar Chances Are, canção creditada a Johnny Mathis. Em seu cover, portanto, Roecker conseguiu, mesmo com um timbre menos empostado que aquele de Mathis, amplificar, por meio de um trabalho mais completo no quesito melódico, essa atmosfera de profundo amor, paixão e, acima de tudo, romance cavalheiresco.
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