O silêncio é absoluto. Apesar de perdurar por poucos instantes, cada milésimo de segundo soa como uma eternidade a ponto de deixar o ouvinte tenso e, mesmo, inseguro. No momento em que a sensação de haver algum erro com a reprodução paira, a canção começa a nascer a partir da união de vozes. Enquanto uma, feminina e ligeiramente aguda em sua delicadeza, assume o protagonismo na dianteira melódica, outra, masculina, grave e gutural, como se fosse proveniente dos ecos de uma igreja gótica, garante seu posto na base sonora. De essência entorpecente e alucinógena, a canção faz com que o espectador pense em se tratar de um produto baseado em um minimalismo absoluto calcado, principalmente, na harmonia vocal. Porém, surpreendentemente, Fall Behind mostra sua verdadeira face quando se torna dramática sob vestes preenchidas por uma guitarra de riff denso e uma bateria de golpes precisos que, de maneira leve, flertam com a estética do doom. Com essa receita, a faixa vem com a mensagem de compaixão para que o ouvinte saiba que, toda a vez que estiver sofrendo, haverá alguém para lhe estender a mão.
Diferente da obra anterior, não há enigmatismo, suspense ou temor. Por meio da escultura sonora proposta já em seu início imediato, a presente canção desfila uma delicadeza na medida certa de açúcar. Sob a união de voz e piano, a música consegue, além de caminhar por entre terrenos de uma textura frágil, transpirar veludo e um aroma floral penetrante, enquanto abraça o ouvinte de forma terna como um cobertor em uma noite fria. Com uma interpretação vocal embebida em uma performance mais operística, Ebony faz da faixa-título uma canção doce capaz de prover curiosos requintes de esperança por meio de uma paisagem poente em que a luz do Sol reflete nas águas do mar criando um cenário espectral, translúcido e até mesmo astral.
Sob uma interpretação lírica que rememora a maneira como Adele pronuncia as palavras que preenchem os versos de suas respectivas músicas, Ebony entra em cena sob uma postura curiosamente nostálgica. A partir de seus versos introdutórios imediatos, o ouvinte consegue criar, em sua mente, um cenário em que uma garota se vê deitada na cama folheando as páginas de um álbum de fotografias até se deparar com uma específica. Nesse ínterim, o vento da manhã faz as cortinas valsarem e o frescor entrar no quarto pelas frestas da janela entreaberta. Além de proporcionar tal paisagem imagética, Golden Sand, assim que o violão entra em cena de maneira delicada e educada, garante para si uma atmosfera aconchegantemente romanceada que captura a atenção do ouvinte sem a menor dificuldade. E a canção se torna ainda mais irresistível quando seu instrumental fica completo e o espectador consegue perceber, a partir da levada assumida pela bateria, uma base rítmica calcada na estética 4×4 do blues.
Hearts Get Started é um álbum que não deixa, ou melhor, que não dá brechas à discussão. Afinal, ele, desde seu momento inicial imediato, transpirou muito mais que sutileza. Exalou pureza e uma atmosfera tão delicada que, mesmo quando com instrumentais ligeiramente mais complexos, conseguiu manter o mesmo grau de fragilidade a ponto de entorpecer o ouvinte.
Com ambiências florais, doces, generosas, aveludadas e românticas, fatores bem perceptíveis já a partir das três primeiras canções, o álbum desfila musicalidade através de inícios minimalistas, explorações harmônicas e crescentes instrumentais súbitas que engrandecem a força das canções como num estalar de dedos. Hearts Get Started, um álbum definitivamente penetrante em sua maciez.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/artist/1WvSBmMWGz2kteoVO1NkzY?si=jnxfzJDtRhKlJl6Pt8qhhA
Site Oficial: https://www.ebonybuckle.com
Facebook: https://www.facebook.com/ebonybuckleofficia
Soundcloud: https://www.soundcloud.com/ebonybuckleofficial
Bandcamp: https://ebonybuckle.bandcamp.com/
