Um sonar semelhante a um chiado ácido funciona como o elemento que puxa a introdução imediata, causando uma ligeira sensação de tensão em meio ao seu embrionário suspense. Rapidamente, porém, um som adocicadamente sintético surge preenchendo a atmosfera melódica com um viés de estética new wave contagiante. Nesse ínterim, a guitarra entra com seu riff áspero rasgando o incitar de torpor feito pelo escopo sonoro até então ofertado. E a bateria, por sua vez, vem macia em seu cinismo mórbido através de uma levada que soa como uma marcha fúnebre. Dessa forma, The Opening, na forma de um prelúdio instrumental, é capaz de misturar sensos de esperança e temor, uma perfeita entrada para o menu completo a ser trazido em One Million Crystals.
A bateria surge solitária e crua em sua movimentação solitária no amanhecer do novo cenário. Rígida em sua essência, ela é seguidamente acompanhada por sonares sintéticos que incitam o medo e a insegurança. É como estar entrando em uma caverna de aspecto assombroso e umbralesco. Conseguindo garantir para si uma dose de swing que causa um agradável e bem-vindo senso de conforto, aqui soando como algo manipulativo e hipnótico, a canção explora a agonia e a angústia através de um embrionário despertar melancólico representados, principalmente, pelos uivos doloridos da guitarra em suas primeiras contribuições. Assim que o primeiro verso começa a ser construído, a canção recebe uma voz feminina de caráter adocicadamente gélido preenchendo o enredo lírico com uma interpretação amorfinante contagiosa. Junto dela, o baixo é um elemento que consegue ser notado com clareza por meio de seu groove encorpado e ligeiramente estridente. Com direito a um teclado que mergulha em uma atmosfera açucaradamente fantasmagórica, Keep My Mind é uma canção em que o Divers pesquisa diferentes texturas.
O sonar do órgão em seu dulçor ácido, causa um senso curiosamente desconfortável e tenso, enquanto recai sob uma atmosfera ligeiramente catedrálica. Ao fundo, um som estridente preenche a base melódica com doses generosas de enigmatismo, o que incita o ouvinte a curtir a sensação de insegurança. Aqui, Lina Horner entra com uma interpretação lírica hipnótica por meio de suas pronúncias lentas e didáticas. Tal detalhe amplifica, na canção, sua ambiência tensa e amedrontante, a qual leva o espectador para um interessante processo de introspecção como forma de se proteger do desconhecido. E nesse ínterim, o conteúdo lírico acaba desenvolvendo sua silhueta dramática e visceralmente entristecida, o que contamina ainda mais o emocional do espectador. O interessante, porém, é que a faixa-título acaba fluindo para uma vertente rítmico-melódica amaciada e confortável, de maneira a flertar com um duvidoso senso de esperança. Surpreendentemente, tal parecer se confirma, enquanto a música evidencia a mensagem de superação e resiliência.
É verdade que One Million Crystals é um álbum composto por 10 títulos. Porém, a maneira como foi conduzido dá ao ouvinte a capacidade de perceber toda a sua proposta através das três primeiras canções. A partir delas, o espectador nota que o trabalho caminha por atmosferas góticas enquanto explora desde sabores ácidos a doces. Um material que chama a atenção por sua índole post-rock por se valer mais em prol de texturas do que ritmo e melodia, ao passo que caminha dos sensos de medo e insegurança à paz e esperança.
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