Sua atmosfera não causa qualquer menção de dúvida quanto a energia que emana de sua sonoridade inicial. Baseada somente no piano, a obra explora um terreno delicadamente melancólico que é engrandecido por meio de valsas de violinos sofridas e chorosas. Tais novos elementos deixam o cenário visceral e abraçado por uma paisagem de céu cinza e chuvoso, tal como as lágrimas que escorrem pela face do indivíduo que assiste, por meio da janela embaçada do quarto, a vida acontecendo do lado de fora. Conforme os violinos produzem sons que se parecem com gritos interessantemente aveludados em seus ímpetos de dor entorpecida, o ouvinte vai se infiltrando cada vez mais em suas próprias memórias. É aí que Nostalgia atinge o corte ainda não cicatrizado perante uma saudade que não pode ser sanada.
Entre o violino e o clarinete, a introdução oferta uma mistura de dulçor, frescor e delicadeza. Ainda que isso de fato aconteça, a sensibilidade que se firma é a de uma tristeza rascante embebida em uma tensão ainda enigmática em sua razão de existência. Porém, conforme se desenvolve, a obra deixa evoluir esse senso melancólico, enquanto sua maturidade melódica funciona como um personagem onipresente que acolhe a dor do personagem através de um abraço terno e cheio de compaixão. Dramática em sua essência, A Morning Overture se configura como uma canção de tristeza lancinante de teor quase incontrolável. Uma dor que faz sua vítima se contorcer até os veios de lágrima secarem completamente.
Um beat é ouvido ao fundo, ecoando pela atmosfera ainda em processo de formação. Com o auxílio dos violinos e do dulçor agudo do teclado, o horizonte se coloca sob uma coloração mística em sua essência crepuscular. Um crepúsculo que anuncia a chegada da noite em que a escuridão vai engolindo gradativamente cada ponta de luz natural de um dia que se despede. Essa paisagem configura uma perfeita metáfora à desesperança e à falta de noção de pertencimento, fazendo com que o senso de solidão se torne gritante. No momento em que as palavras não podem confortar o sofrimento alheio, a música entra como uma espécie de auxiliador no processo de superação do indivíduo em relação à sua dor. E essa é a principal mensagem embutida no enredo melódico de When Words Fail, Music Speaks.
É possível de se dizer que Little Arguments encapsula certo quê de ousadia por parte de Allen Constantine. Afinal, a ideia de fundir música clássica com música eletrônica soa confusa e sem qualquer chance de tangibilidade. Contudo, ele fez funcionar. Explorando atmosferas densas e sentimentalmente embebidas em uma tensão melancólica rascante, o músico conseguiu criar uma atmosfera mista em que esses dois mundos se colidem de forma harmônica, o que pode ser percebido já através das três primeiras faixas do material.
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