A maneira com que a guitarra introduz o ouvinte no ecossistema nascente da canção sugere agradáveis sensos de frescor com curiosos requintes de delicadeza estrutural. Ainda que inicialmente minimalista em sua sonoridade, a obra é capaz de incentivar a tranquilidade e lapsos de um torpor influenciado pelo convite à introspecção. Surpreendentemente, o que se segue é uma atmosfera de sonoridade adocicadamente sintética que conforta ao mesmo tempo em que contagia o espectador a partir de sua tomada mista de pop com pitadas de eletrônico. Assim que o primeiro verso se anuncia, o enredo lírico começa a ser desenhado por uma voz masculina de timbre agradavelmente grave responsável por criar um contraponto de sabores diante do dulçor estonteante até então sugerido. Fluida graças a um beat sereno em sua maciez linear, Already Know desemboca em um refrão de caráter dançante em que o vocalista explora falsetes consistentemente executados.
O sonar delicado e adocicado introduzido pelo sintetizador instiga, aparentemente, um falso senso de bem-estar. Capaz de soar, aos ouvidos do espectador, um tanto melancólico, o instrumento faz com que a canção desemboque em uma atmosfera minimalista curiosamente tomada por um senso dramático contagiante. De atmosfera esotérica em sua calmaria estética, a música coloca o ouvinte em um estado latente de torpor que se mantém com maestria também durante o refrão. Indo, então, de um estado sensorial reconfortante a um embrionário caos interior, Borderline se mostra como uma faixa que dialoga sobre os sintomas e a rotina de quem é portador desse transtorno de personalidade.
O sonar trazido pelo teclado é ondulante e frequentemente censurado em uma estratégia que soa curiosamente proposital. Causando certo grau de incômodo nessa inconstância, essa ausência de fluidez deixa escapar um chiado que dá à atmosfera uma conotação de crueza que logo insere a canção, mesmo que suavemente, na seara do lo-fi. Tendo a linha lírica como único elemento a promover um senso de continuidade inquebrantável, a canção explora a embriaguez através de uma sonoridade opaca que vai, gradativamente, tirando o ouvinte do controle de suas faculdades lúcidas. Com essa receita, Obvious encaminha o ouvinte para um refrão de caráter amorfinante em seu contágio embasado na temática do pop de maneira a mascarar, mesmo que ligeiramente, o drama visceral vivido pelo protagonista lírico.
Com Myosotis, o Red Skies Mourning não apenas surpreende por fundir o pop com o sci-fi, criando, assim, uma atmosfera realmente autêntica. A banda chama a atenção por fazer, do álbum, um material que se preocupa com o futuro em um claro senso de comunidade ao mesmo tempo em que foca em questões mais introspectivas, como relacionamentos e autorreflexão, quesitos já identificados através de suas três primeiras faixas.
Ainda assim, Myosotis é, em essência, um material que traz uma preocupação justificável e necessária acerca do impacto da tecnologia na conexão humana. Afinal, cada vez que a inteligência artificial avança sua presença na sociedade, mais ainda é possível de se observar um evidente crescimento na carência por atenção e carinho.
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