A maneira com que a guitarra soa no amanhecer da canção de abertura é como a sonorização da chegada do Sol trazendo, no horizonte, mais um dia. Mais uma oportunidade de fazer valer a pena. Mais uma oportunidade de viver e ser grato pela vida. O interessante, no entanto, é notar que, por meio de suas ondulações ácidas com toques doces e agudos, o instrumento consegue instigar um curioso estado de torpor. Não um torpor como estratégia de fuga da realidade, mas um tipo de morfina que dissemina um estado de êxtase e bem-estar viscerais que torna tanto o caráter lúcido quanto o inconsciente apenas diferentes meios de experienciar a plenitude. Assim que a canção finalmente explode, rompendo com a embriaguez disseminada durante seus momentos iniciais, não apenas a melodia se torna tocante em meio a uma espécie de intensidade educada, mas também a paisagem se torna ainda mais viva e sorridente. Por meio de um rock alternativo em que todos os elementos, inclusive o baixo, podem ser degustados com clareza, Dream se torna uma obra de enredo lírico que ensina mais do que a gratidão e o aproveitamento do momento presente, mas mostra os ganhos que a maturidade dá ao indivíduo.
A delicadeza se faz presente na nova introdução, que é puxada por um violão de tomada frágil e serena que soa como um abraço compassivo e repleto de altruísmo. Surpreendentemente, porém, enquanto a bateria entra em cena com uma levada precisa e de postura suja, um sonar sintético cresce gradativamente oferecendo lampejos de harmonia até que leva a obra para o seu primeiro punch. Explodindo em um cenário melódico capaz de ser dramático em sua sonoridade de caráter melancólico, a obra leva o espectador para um ambiente em cuja nova movimentação exercida pela bateria traz grande influência de Shannon Leto. Evidenciando, portanto, um mergulho nas estéticas rítmicas do alt-rock e do metal alternativo, The Ripple é marcada por uma paisagem dramática capaz de oferecer, audaciosamente, aromas florais que causam certo quê de conforto no espectador.
Ainda que Shade chame a atenção pela sua delicadeza estética e sua visceralidade rascante evidenciada durante seu momento de crescendo, Props é outra canção de The Line que merece destaque. Afinal, além de ela nascer através de um frescor frágil rodeado por um senso melancólico-nostálgico providenciado pelo minimalismo estético trazido pela guitarra, ela consegue fazer com que o baixo, mesmo com sua característica padrão de sisudez e racionalidade, se transformar em um elemento de grande valia na disseminação das emoções propostas pelo enredo lírico. Emotiva, ela ganha mais fluidez assim que a bateria começa a ganhar protagonismo por meio do desenho da camada rítmica, a qual auxilia de igual forma a espalhar a dramaticidade emocional que se evidencia indiscutivelmente em um refrão rascante e melodramático marcado por uma harmonia de cunho profundamente transcendental.
The Line não é um álbum comum. Ainda que seja embebido em estruturas rítmico-melódicas já padrões no universo musical, ele consegue transformar o lado comum do alt-rock e do alt-metal para algo acima das expectativas. Visceral, dramático e intenso em sua dramaturgia cenográfico-sonora, o álbum mostra o Indiago experimentando uma honestidade emocional gritante a ponto de fazer o espectador se arrepiar e as lágrimas escorrerem de seus olhos em virtude das atmosferas construídas. E nesse processo, as quatro primeiras faixas merecem destaque pela simples razão de fornecerem algo palpável à sensibilidade do espectador.
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