A canção é iniciada, de certa forma, com um grau de crueza embrionário em virtude da maneira com que a voz de Santa Sallet é ouvida. Rapidamente, o ouvinte é levado para um ambiente de cunho embriagante em que o subgrave se une ao beat causando uma vertente sensorial audaciosa. Afinal, ao mesmo tempo em que existe lapsos de racionalidade, há, também, traços de um profundo senso de embriaguez. Mas o que de fato chama a atenção em Championship Ring é a nitidez com que os versos líricos são apresentados. Da maneira como estão, cada palavra e cada nuance interpretativa pode ser facilmente percebida pelo espectador, que se vê fisgado por uma atmosfera rap contagiante. É aí que se nota que a canção não é necessariamente sobre ostentação, mas é um interessante recorte de uma realidade aquém da normalidade.
O sample é o elemento que funciona como elemento introdutório. Fornecendo sensos de torpor latentes e até mesmo lapsos nauseantes, ele insere notas de um som digitalizado de forma a tornar a introdução minimamente intrigante. Assim que o primeiro verso se evidencia, o ouvinte se vê imerso em uma atmosfera rappeada nitidamente mais afiada que aquela oferecida durante a desenvoltura de Championship Ring. Amadurecendo o seu aspecto rimado como forma de tornar os versos líricos mais penetráveis no inconsciente do espectador, Bitch I’m Rich é uma música formada por um beat contagiantemente amorfinante e um lirismo de cadência enérgica que funciona como uma espécie de continuação da narrativa ofertada na canção anterior. Afinal, aqui o rapper explora a rotina e suas posses, evidenciando sua condição financeira endinheirada.
Um despertar, no mínimo, diferenciado. Afinal, o que se tem nesse novo amanhecer é um sonar de caráter oriental que dá à paisagem em processo de destaque uma excentricidade notável. É interessante perceber que, a partir desse som repetitivo, o suspense e toques de fragilidade e vulnerabilidade passam a rondar o espectador, o deixando inseguro e, ao mesmo tempo, na expectativa de descobrir os próximos passos narrativos da obra em desenvolvimento. Em Chinese Funk existe uma textura crua demasiadamente saliente que acompanha Sallet em meio a uma estrutura rítmica que se matura de forma a se tornar surpreendentemente sensual em virtude da textura amaciada do sonar do chocalho.
A introdução é regida por um sonar denotativamente digital que soa, curiosamente, como um verdadeiro imergir no campo do chiptune. Entorpecido por inserções pontuais de um bojudo subgrave, o enredo sonoro inicial serve como um prato de entrada para o banquete dramático e reflexivo que é evidenciado em Doing It Well. Na faixa, um primeiro produto verdadeiramente reflexivo de Plutography, o rapper instiga o ouvinte a pensar no poder de corrupção do dinheiro. Afinal, a faixa, indiretamente, fala do poder, da ganância e da exacerbação de um falso senso de personalismo que a riqueza pode causar no indivíduo, o fazendo se esquecer, até mesmo, de sua essência. De sua origem.
Pode parecer que não, mas Plutograpohy é um álbum conceitual de aspecto amplamente reflexivo. Aqui, porém, o assunto central não é necessariamente social, mas, sim, focado em um recorte do mundo dos negócios. A cada um de seus 16 enredos, o produto traz um Santa Sallet dialogando sobre como ser bem-sucedido na indústria da música.
O interessante, porém, está nas entrelinhas dessa interpretação do ‘ter sucesso’. Afinal, o rapper busca estar bem consigo mesmo, sem se esquecer de sua essência, mesmo agora na posse de grandes montantes de dinheiro. Eis aqui outro ponto de importante reflexão, inclusive: até que ponto o dinheiro corrompe o indivíduo e o tira de um estado de racionalidade natural, algo ressaltado, de certa forma, nas quatro primeiras canções de Plutography. A vida na música não é fácil, mas assim que ela flui, o desafio é saber lidar com o enriquecimento sem se perder intimamente.
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