Por meio da valsa fresca e melancólica do violão, a canção já tem um início marcado por uma estética folk bravamente introspectiva. Tão hipnótica quanto o canto da sereia encantando os navegantes que se aventuram pelas águas fabulescas do mar, a canção traz consigo uma paisagem narrativa penetrante que se constrói através de uma voz feminina de timbre forte em seu misto de grave e agudo. Rememorando o tom de Lana Del Rey, a cantora faz de 10,000 White Horses uma obra atmosférica e, principalmente, etérea, que captura o ouvinte em virtude de suas harmonias de cunho céltico e sua paisagem banhada por um céu acinzentado que torna as águas do mar opacas, mas sem incentivar qualquer sinal de agressividade na maré.
Um sonar agudo lexicalmente enigmático paira pela atmosfera deixando o espectador levemente vulnerável em meio a imprevisibilidade e incerteza a respeito da ambiência em construção. Delicada em sua essência, Selkie é mais uma canção que, assim como 10,000 White Horses, explora uma paisagem folk céltica penetrante em cuja forma narrativa encarna uma estrutura mitológica. Arregimentando o viés minimalista e introspectivo do Nobody’s Wolf Child, a presente faixa explora mais a questão harmônica através de sobreposições vocais que tornam a atmosfera inebriante em seu aspecto dramático. Com o vento fazendo valsar as velas do barco, a canção tem consigo uma essência excêntrica que beira a era da pirataria marítima.
Erbsa’s Songs Of The Sea é um EP cujo título é, simplesmente, autoexplicativo. Explorando sonora e sensivelmente as paisagens do mar, o material é embebido em uma dramaticidade folclórica latente em seu viés céltico que é capaz não apenas de entorpecer o espectador, mas de, literalmente, o hipnotizar. A cada nova harmonia vocal ou a cada esquina melódica provocada pela solitude do violão, uma onda de emoções são oferecidas a ponto de fazer o espectador transitar entre melancolia e insegurança com notável fluidez.
Justamente por isso que, entre as suas cinco canções, os dois títulos que abrem sua track list merecem destaque. Afinal, eles mostram, com precisão, a essência minimalista do Nobody’s Wolf Child e enaltecem a sua capacidade em fornecer narrativas penetrantes cujas palavras carregam cenas e emoções marcantes que capturam o mais profundo do espectador.
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