É interessante notar quando um artista não tem apenas jogo de cintura, mas é embebido em uma postura ambiciosa e autêntica. Logo nos primeiros instantes da canção, Jerome Pawl mostrou ser um desses indivíduos. Afinal, através de sonoridades estridentes em seu toque ácido sintético, ele recebe o ouvinte com um mínimo de preocupação em relação ao conforto estético. Dissonante e caótica, a obra passa para um ambiente em que é regida, principalmente, por um beat lexicalmente marcante e preciso de tal forma que seus golpes ecoam por toda a atmosfera. É nesse instante em que Pawl assume o microfone e começa a fazer de Limo Tints um produto rap contagiante e densamente sincopado. Cheia de rimas, a canção soa como um recorte de uma das vivências do rapper em busca de aceitação e entrosamento.
Fresca e delicada, mas se valendo exclusivamente ao seu groove acentuado e sensual, a composição já nasce com uma postura provocante. Nesse aspecto, também o beat tem participação. Afinal, ele vem com uma pronúncia mais fluida e amaciada, sem aquele drama intenso que configurou a paisagem da faixa anterior. Com direito ao sonar agudo e estridente do trompete ecoando ao fundo, a música acaba ganhando não somente excentricidade, mas um charme que a torna chamativa e, portanto, diferenciada. Não à toa que, em Ain’t No Switchin’ Sides, Pawl entra em cena com uma interpretação lírica mais amaciada e branda, o que auxilia na obtenção, por parte do ouvinte, de uma sensibilidade inclinada para o conforto e a fragilidade.
Drain The Swamp não pode ser encarado como um EP comum, ou, ainda, mais um produto que chega ao mercado. Ele é um material que explora texturas e energias completamente diferenciadas, promovendo ao ouvinte uma experiência sensorial vasta e crescente. Ainda que embebido em energias negativas, o extended play é um material que narra, com precisão, recortes marcantes das vivências de Jerome Pawl.
Não à toa que, nesse processo, as duas primeiras, com adesão, também, a My Everything, carregam grande parte da essência do material. Afinal, as faixas trazem o drama, a sensualidade, mas também um toque de romance, evidenciando a profunda sensibilidade de Pawl não apenas como músico, mas, também, como indivíduo.
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