Não é apenas um mantra. Sua energia é espiritual, transcendental. Profundamente introspectiva. Graças aos uivos penetrantes fornecidos por Juju Walker por vezes se sobressaindo perante o tom azedo de Jimmy B Fearless, a canção ainda garante para si uma espécie de delicadeza tangível vista a sua densidade. Por meio da união desses timbres junto à sonoridade branda em seu teor sintético, é como se o ouvinte conseguisse, ao fechar os olhos, se perceber venerando o pôr-do-Sol e toda a coloração mística que adorna o céu durante a transição entre o dia e a noite. O interessante é perceber que, ainda que a obra desdenhe um caráter astral, a maneira como Fearless vai criando sua interpretação vocal acaba dando ao ecossistema certo grau de dramaticidade através de seu viés reflexivo. Entre versos pronunciados de maneira firme e outros sob um caráter levemente desolador, Helpless é onde o cantor aborda o amor como domador da realidade. Afinal, aqui Fearless interpreta como essa qualidade consegue tanto dar poder às pessoas e como, ao mesmo tempo, esse mesmo poder pode ser perigoso para aqueles que o possuem.
Com o auxílio de sonar azedos com outros de caráter adocicadamente ácidos que fazem transpirar um interessante viés psicodélico, o sintetizador, juntamente com o teclado, faz surtir no desenvolvimento de uma atmosfera hipnótica, mas, também, entorpecente. Surpreendentemente, porém, o que acontece é o oferecimento de uma paisagem rígida calcada no forte uso de subgraves como forma de enaltecer o escopo rítmico. Enquanto isso, o caráter lírico surge por meio de pronúncias sincopadas que, mais do que ocorreu em Helpless, destaca a natureza rap de Fearless e, também, da própria composição em desenvolvimento. Com o apoio de um beat eletrônico felizmente se sobressaindo por entre os subgraves, a presente canção é capaz de prover noções fluidas de movimento que lhe garantem uma leve percepção de suavidade. De pronúncias facilmente compreensíveis pelo ouvinte, em The Weekend o vocalista convida o espectador a refletir sobre a excitação passageira da vida ao mesmo tempo em que evidencia o quanto é possível desejar e se sentir carente por aqueles momentos de pura alegria.
Sua atmosfera é delicada, macia, aconchegante e aromaticamente perfumada. Com interessantes flertes para com uma paisagem estética pop, a canção nasce com um beat fluido, mas marcante, que acompanha o rapper em seu rápido amadurecimento lírico. De teor introspectivo e bastante reflexivo, a maneira como o sonar sintético se combina com o timbre do vocalista acaba criando um interessante contraste de melancolia. Cheia de rimas, o que possibilita uma melhor assimilação da mensagem lírica proposta, Invisible é uma obra que destaca os anseios do rapper em conseguir ser autêntico e notado ao mesmo tempo que destaca a inevitabilidade do fato de que, nem sempre, é possível ter reconhecimento dos outros perante aquilo que se ama.
É difícil encontrar um trabalho de rap que consiga se enveredar por paisagens estéticas delicadas que, ao mesmo tempo, seja capaz de trazer mensagens amplamente reflexivas em um contexto socio-comportamental atual, mas pouco notado. Com The Love Is Real, Jimmy B Fearless não apenas garante o feito, mas faz, do álbum, um material conceitual ao fazer com que cada um de seus 13 capítulos dialoguem, de forma não necessariamente linear, sobre a temática da verdade universal.
Quanto mais se aventura pela sua audição, mais se percebe a natureza intimista e reflexiva acerca da necessidade de receber amor. Amor não apenas como carinho, mas como sinônimo de respeito e compreensão. Claro que a questão do companheirismo e do sentimento recíproco de cuidado está inerente entre os diálogos propostos.
Afinal, em diversos momentos é possível de se ouvir os versos ‘forgetting what she said’. Essa frase carrega uma essência sentimental tão gritante que dá às composições que está presente um teor dramático ainda maior. Afinal, em sua essência, esse pequeno verso captura a fragilidade do indivíduo perante o fato de que são as pessoas que mais se ama que podem causar fraturas emocionais.
Cheio de significados marcantes, os quais acabam destacando os enredos presentes nas suas três primeiras canções, The Love Is Real também traz títulos como RunAway, Small Circle High Walls e Dream Bigger que merecem uma atenção diferente. Contando com diversas participações especiais, o álbum é, definitivamente, um produto rap diferenciado.
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