Não é apenas transcendental ou simplesmente caracterizado por um senso de delicadeza quase transcendental. A maneira com que a canção se inicia traz consigo tocantes sensos nostálgicos que se fundem a um frescor penetrantemente relaxante. Através de uma guitarra ternamente ecoante na companhia de uma bateria de levada lexicalmente aveludada capaz de oferecer uma sensualidade sem qualquer menção propriamente sexual, a canção passa a ser embebida por uma fluidez agradavelmente contagiante. É interessante perceber, também, que em Sigue Al Atardecer, o violão, presente no entremeio entre os espectros rítmico-melódicos, sugere uma dose extra de frescor emocionalmente saudoso. Assim, é como se o espectador se percebesse sentado em uma praia deserta admirando o Sol em sua despedida paulatina perante o além-mar.
O som do teclado, junto à guitarra, sem muito esforço, já faz com que o ouvinte fique com os olhos cheios d’água em virtude do despertar de uma emoção ainda de origem indecifrável e enigmática. O fato é que a delicadeza lexicalmente aveludada formada por esses instrumentos consegue tocar profundamente a audiência. Por meio dos brandos toques da baqueta na superfície do prato de condução, a canção acaba ganhando uma textura rítmica extremamente suave que, mais do que causar conforto, sugere, interessantemente, um caráter romanceado. Esse detalhe vai tomando gradativamente mais corpo conforme a melodia se desenvolve. E é exatamente nesse momento que, com o auxílio do bumbo pulsante e das notas do teclado cuidadosamente inseridas na atmosfera, Artificial Love explode em uma espécie de valsa alegre e extasiante em que o amor está em sua plena felicidade.
Seu despertar é envolto em um toque de crueza interessantemente delicada. Nesse ínterim, um sonar tilintante agudo entra em cena de maneira a, além de desenhar os primeiros enredos melódicos, confere à atmosfera os primeiros sinais de harmonia. E é essa mesma sonoridade que dá ao ambiente uma profunda imersão sensorial no grande universo oriental. Quando a audiência já se mostrava conformada e ambientada com a estrutura até então apresentada, a canção a surpreende ao proporcionar punchs formados pela união uníssona de bateria e guitarra. Ampliando o escopo harmônico e aderindo ainda mais precisão e consistência ao ecossistema, esses instrumentos fazem com que Asia não apenas experiencie o transcendental, mas também o etéreo. Quanto mais cresce, novos elementos entram em cena. Abaixo do teclado em seu andamento protagonista e da guitarra sugerindo lapsos de lucidez, o baixo se posiciona na base, junto à bateria, construindo uma camada sonora encorpada e precisa, dando à Asia a força ideal para salientar todos os seus sabores rítmico-melódicos.
Ele é um álbum instrumental que leva o ouvinte para um mundo de imaginação, fantasia e até mesmo utopia. Por meio da união de sonoridades sintéticas e orgânicas, Hacia Las Estrellas promove uma ampla experiência sensorial no ouvinte através de suas diversas camadas sonoras que propõem desde o transcendental ao etéreo.
Instrumentalmente bem trabalhado de forma a fazer com que cada um dos instrumentos presentes sejam facilmente identificados pelo público, o álbum passa a ser capaz de fazer do torpor uma espécie de liberdade espírito-emocional. Uma porta aberta que dá acesso às sensações e emoções ou censuradas, ou represadas pelo medo de serem expostas. Não é à toa que lágrimas se formam ao passo que os ouvidos do espectador entram em contato com propostas sonoras de tamanha delicadeza e ternura.
Esses detalhes, por mais que estejam bem presentes diante das primeiras três canções do álbum, também podem ser identificadas em outros títulos no decorrer da track list. Exemplos disso são as faixas Verano Sin Ti, com sua paisagem nostálgico-melancólica, e a hipnótico-introspectiva Eclipse. Essas músicas ajudam o álbum a ser ainda mais tocante e profundo.
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