Seu início é, no mínimo, interessante. Com sua leveza estrutural, ela confere uma ambiência serena repleta de um frescor tão contagiante quanto aquele vindo em uma tarde de primavera. De estética minimalista, a canção tem seu início principal assim que o primeiro verso se inicia. Contando, no âmbito sonoro, apenas com a presença do violão criando uma estética melódica amaciada, mas cuja postura traz um contexto que, inclusive, imita a percussão, a composição se deixa levar por uma narrativa lírica apresentada por uma voz feminina de timbre aveludado e delicado. Na posse de Camila Castellani, esse tom, que, por vezes, apresenta ligeiros toques graves, começa a desenhar o enredo lírico ao mesmo tempo em que a música vai crescendo em elementos. Agora com piano na base sonora e o tilintar frágil do pandeiro na base rítmica, A Summer Day In April desperta, em si, uma postura latina que lhe confere um singelo flerte de sensualidade em meio ao seu veludo estrutural. Com essa fórmula, o ouvinte pode acompanhar Camila em uma narrativa cheia de rimas que evidencia uma paixão nascida em um dia de verão e o desejo da protagonista em reencontrar o indivíduo por quem nutriu tal sentimento para reviver as emoções de um amor veranista. Ainda assim, não é difícil para o espectador notar um clima nostálgico por algo que não mais pode ser experienciado. Algo que se rompeu, se encerrou.
A união dos violões cria uma atmosfera hipnotizantemente doce, macia e agradável. Delicada em sua máxima essência, a canção se apresenta sob uma postura rítmico-melódica generosa, educada e convidativa. Crescendo em elementos, mas mantendo seu senso minimalista estrutural, a canção tem um charme interessante proporcionado pela combinação entre a maneira como o violão principal se movimenta na dianteira sonora e a forma como Camila desenha o enredo lírico. Tornando a atmosfera esvoaçante e cuidadosamente swingada, essa sincronia acaba fazendo com que Into The Woods apresente uma conjuntura que se assemelha tanto àquela de Head Over Feet, single de Alanis Morissette, e Closing Time, single do Semisonic. Ainda assim, a presente canção faz o ouvinte mergulhar em um refrão ligeiramente dramático e visceral, mas incapaz de esconder a sutileza harmônico-melódica que preenche seu ecossistema.
Um sonar semelhante ao da viola portuguesa acende a introdução por meio de uma imersão sonora no campo árabe que entrega à introdução uma sensualidade ímpar. Ainda que isso aconteça, o viés latino entra em peso e se torna uma espécie de base atmosférica da composição. Late September Sky é uma canção embebida em um frescor diferenciado em relação àquele de A Summer Day In April, afinal, ainda que a presente faixa seja contagiante, ela apresenta uma estética interessantemente introspectiva que explora uma delicadeza floral e ligeiramente melancólica através da contribuição do teclado.
A Speck Of Light é onde se comprova a eficácia e a significância da palavra fusão, quando bem feita. O álbum, mais do que providenciar uma intersecção entre Dinamarca e Argentina. É a combinação entre musicalidade e experimentalismo com entrega, visceralidade e uma delicadeza melancolicamente romântica que extravasa dos poros líricos. E isso se torna evidente já a partir de suas primeiras três canções, tendo em vista a máxima sintonização entre seus integrantes. Definitivamente, um prato folk de muito sabor.
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