O álbum já começa com uma introdução dramática e ligeiramente caótica. Trazendo como protagonista estético um violino de participação desesperada, sua faixa de abertura dá ao ouvinte a interpretação de se tratar de um produto que incita o pensar de maneira drástica. Um raciocínio construído a partir de realidades desconcertantes e eventos absurdos. Acclimation Intro, com seu enredo lírico fornecido por um vocal digitalizado, sintético e sem alma, funciona como um prelúdio informativo sobre a maneira como indivíduo reage às condições do ambiente ao qual está inserido.
Sonares ácidos, sintéticos e tremulantes servem como o cartão de visita ao ouvinte. O interessante é perceber como eles, com suas silhuetas digitais estáticas e estridentes, conseguem incutir a sensação de drama em um contexto de estrutura ainda pouco revelada. Fluindo para um cenário amaciado, ligeiramente delicado, mas entorpecido, a canção é capaz de oferecer um primeiro verso esteticamente múltiplo, pois em poucos segundos transita do reggae ao R&B com bastante versatilidade até amadurecer, com a entrada de Acclimate Hip Hop e seu timbre suavemente grave, no rap. Fornecido pela cadência lírica assumida pelo cantor, tal gênero é aquele que passa a determinar a base estrutural da épico-dramática Into Obscurity.
O violino surge entre riffs acelerados, mas em pronúncias mudas, como o abre-alas do novo cenário. Funcionando como a base melódica introdutória a ponto de dar a liberdade para que outro violino se sobressaia com sua contribuição aveludadamente lamentosa, é ele quem dá um ligeiro clima de tensão no amanhecer da faixa. O interessante é perceber como essa sobreposição sincrônica funciona no âmbito da construção da alma de Time Moves Slow. Determinando a cadência lírica, mas também inserindo requintes de drama e melancolia, ela dá sustentação para que o cantor incite a reflexão sobre como as pessoas encaram e se relacionam com o tempo.
Sonares graves, bojudos e estridentes, como se vindos de um trombone, regem a sonoridade introdutória. Funcionando como a base melódica linear da canção, essa melodia monóloga e quase dissonante é a única textura palpável da obra. Aceitando a regência dada pelo compasso do chimbal, Breather – Remaster se apresenta como um interlúdio fluido, interessantemente fresco e com uma performance lírica penetrante.
O novo cenário é trazido por uma sonoridade que já nasce inebriante em sua estética sensorial tensa a ponto de promover o suspense. Crescendo gradativamente em presença, ela traz uma estrutura abraçada por subgraves pontuais que dão mais pressão na camada rítmica, chimbal sincopado e sonoridades digitais que se movimentam de forma linear. Com o auxílio do ato tune para deixar sua voz em diferentes tonalidades, Acclimate faz de GOTHAM uma canção de energia sombria, tensa e, até em certo aspecto, perigosa.
Ele não é um disco de rap comum. Afinal, não aborda apenas a realidade das ruas, questões sociais ou comunitariamente conflituosas. Acclimation traz uma consciência de mundo superior ao trazer para o centro da conversa temas profundos como saúde mental, vício, conflitos religiosos e adversidades que atingem um âmbito global.
Tendo grande parte dessas temáticas escancaradas logo no decorrer de suas primeiras quatro canções, o álbum chama a atenção pelas suas texturas melódico-rítmicas, dramáticas, melancólicas e rígidas em sua proposta de incitar o diálogo e a reflexão acerta de tais assuntos. Um material genuinamente humanitário de postura sensata, firme e madura a respeito do seu papel como difundidor de opinião.
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