A ambiência que se tem é entorpecente. Gélida em sua essência sonora estrutural. Ainda que adornada por um beat ligeiramente sincopado, a verdade é que o que chama a atenção na canção de abertura é o seu enredo verbal. Trazido por uma voz ligeiramente grave, ela entra em um tom necessariamente narrativo em que a IA é o personagem protagonista e ela evidencia sua satisfação perante sua própria eficácia. Em Prompt, a inteligência artificial mostra a sua inevitabilidade e sua potencial existência desde os tempos tecnológicos remotos.
Aqui, a canção nasce sob uma estética mais adocicada e atraente, ainda que igualmente sintética. Surpreendentemente, entre beats e uma crescente energética súbita, a presente canção flui direto para um verso de fato cantado. Sob a estética do rap e narrada por um timbre levemente grave natural, e, portanto, não digitalizado, Art Official traz um contexto geral contagiante em que, novamente, o enredo narrativo guarda o principal atrativo ao ouvinte. E, aqui, a canção aborda a utilização da IA no campo musical, enquanto destaca a sua importância na manutenção e na construção de um caráter ainda mais imortal a esse campo das artes.
Ainda que seja regido por uma instrumentação densamente sintética, AI vs IQ guarda um trunfo que foge a esse padrão. E ele é Algorithm. Com um violão macio, swingado, fresco e com uma leve silhueta latina, a canção já tem seu início marcado por um bom e consistente corpo melódico proporcionado pela contribuição do baixo na sonoridade introdutória. Junto a eles, o beat, de sonar acústico, traz uma leveza interessante que torna a canção organicamente fluida. Sob uma cadência lírica rappeada, Alogrithm aborda outro lado da indústria musical que não a eternidade, mas, sim, a fórmula do sucesso. E sob essa verve, ela traz o algoritmo como algo atual, tecnológico e definidor da imagem do artista mundo afora através dos meios digitais. É como se, hoje, cada novo indivíduo que entre à indústria do entretenimento seja refém da tecnologia quanto à sua atuação profissional.
Optimization, assim como Algorithm, também entra na soma de canções de cunho mais orgânico fornecido pelo álbum. E o interessante é que, aqui, a introdução é regida por uma delicadeza curiosamente melancólica vinda da maneira com que o piano se movimenta e se apresenta. Fortalecendo seu caráter dramático e fazendo surgir o espectro harmônico, a canção passa a ser agraciada por frágeis sonares de violinos que começam a flutuar pelo ambiente. Fundindo esse sentimentalismo melódico com uma cadência lírica rappeada, a canção traz um caráter curiosamente tocante em sua aparente incitação à reflexão e à introspecção por parte do ouvinte. O curioso é que, em Optimization, o IQ The Prodigy oferece à audiência sua obra mais sincera, comovente e autobiográfica de todo o álbum. Apesar do título, não há muita menção ao espectro da inteligência artificial, mas existe uma sinceridade evidente na forma como o cantor narra sua trajetória, seu modo de pensamento e seu foco para atingir seus objetivos. É em Optimization, inclusive, que o rapper descreve seu modo criativo, de onde ele tira as inspirações e como ele compõe suas músicas.
Para um mundo em que a tecnologia não é mais uma mera coadjuvante, AI vs IQ é um álbum mais que necessário para ser ouvido, mas com a devida atenção. Afinal, por meio de suas 10 faixas ele avalia diversos setores em que a inteligência artificial está envolvida. Por vezes, ela é a protagonista. Por vezes, ela é um personagem onipresente, uma mera menção. E isso acontece em Optimization, a faixa mais comovente e sincera do álbum.
Mas como na vida real, a inteligência artificial é algo que está sempre presente na rotina da sociedade e em sua cultura moderna. E nesse sentido de reflexão do seu papel, faixas como Prompt, Art Official e Algorithm se destacam pelo seu olhar analítico sobre sua presença no mundo humano.
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