Angra é o tipo de banda que atrai multidão por si só. Só, não. Por conta de todos os tijolos firmes que colocou, um por um, fazendo com que sua história esteja diretamente ligada com a própria história do metal no Brasil. Portanto a Rebirth 20th Anniversary só poderia vir com o resultado de casa cheia. Cheia mesmo, com filas quilométricas de camisetas pretas e uma alegria e ansiedade sem fim em frente a Ópera de Arame.
Fã que é fã usa camiseta da banda em dia de show (às vezes nos outros também). E parece até bobeira falar disso, mas juro que não é. Acompanha meu raciocínio. Quantas bandas brasileiras você conhece que arrasta multidões uniformizadas, no melhor estilo vestir a camisa e carregar no peito?
Essa é uma das trocas mais preciosas que se pode acontecer entre artista e público. E reflete uma coisa muito importante, no público se sentir parte e todo mundo quase soar como uma grande família.
Então, quando Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli, Fabio Lione, Marcelo Barbosa e Bruno Valverde entraram no palco pomposo e acolhedor da Ópera de Arame, e o público, que aguardava ansioso, ficou imediatamente de pé, a sensação que predomina é a de que todo mundo está junto fazendo parte de uma coisa muito muito maior do que podemos enxergar. E é exatamente isso que define a Rebirth 20th Anniversary.
Um suspiro máximo de quem comemora junto uma realização, uma lembrança, um momento. Ainda mais quando se trata de um álbum icônico, considerado como um dos melhores discos de power metal do mundo pela Metal Hammer, que marcou uma nova geração, um momento de transição da banda.
E é ainda mais icônico que isso seja comemorado 20 anos depois, especialmente após dois anos de uma paralisação mundial por conta da pandemia que causou um verdadeiro renascimento na sociedade em muitas maneiras.
Para esquentar as turbinas, o público curitibano contou com duas bandas de abertura. Primeiro, a Trend Kill Ghosts com participação especial da cantora Vanessa Rafaelly.
Na sequência vieram os gaúchos da Rage in My Eyes que surpreenderam demais misturando metal com milonga e trazendo um gaiteiro. A apresentação terminou com uma homenagem feita a André Matos. “Faz três anos que a gente perdeu um dos maiores nomes do Heavy Metal do mundo”, disse o vocalista.
O Angra subiu ao palco exatamente 21h28 e encerrou exatamente duas horas depois, nem um minuto a mais ou a menos. Isso mostra o quanto eles estavam maravilhosamente afinados com tudo, especialmente porque Lione, Barbosa e Valverde não participaram da produção original.
O que não representou um desafio enorme para os músicos de tão alto calibre, profissionalismo e igualmente brilhantes (monstros!), criando uma harmonia técnica imensurável. Ainda que os fãs estivessem um pouco receosos do que esperar. (Porque fã que é fã reclama mesmo de qualquer nota que soe diferente do disco, ainda mais um vocalista com a tonalidade muito diferente!)
A verdade é que o Angra deixou o público com aquela sensação grandiosa de quem participou de uma noite para ficar na história. Mas vamos aos fatos.
“Tocar o Rebirth na íntegra é muito especial para todos nós porque marcou o renascimento da banda em um determinado momento muito importante e que a gente honra demais esse momento. E que agora também marca um renascimento depois de três anos sem tocar.”, disse o Rafael.
O aquecimento veio com “Nothing to Say” e “Black Widow’s Web” com Rafael dividindo os vocais com Lione.
E então a sequência do Rebirth com uma intro do “In Excelsis” e aí seguiu pra valer com “Nova Era”, “Millennium Sun”, “Acid Rain”, “Heroes of Sand”, “Unholy Wars”, “Rebirth”, “Judgement Day”, “Running Alone” e “Visions Prelude”.
Só que não dá para uma banda com o histórico do Angra fazer um show sem incluir alguns clássicos. “Carry On” que o diga, gritado pelo público do início ao fim como um pedido desesperado. E nada de ser atendido.
Então vieram “The Course of Nature” e “Metal Icarus”. Lione soltou seu vozeirão em alguns versos de “Con te Partirò”, e com a ajuda do público. “Nessa turnê a banda vai fazer, pelo menos uma música de cada álbum. Então temos Shadow Hunter.”, contou o vocalista.
É muito bacana essa interação com o público e ele com um carisma gigante sabe fazer como ninguém.
“Essa música eu gosto e quero Curitiba vocês cantando comigo chamada Bleeding Heart.”, disse um Lione que oscilava entre um inglês e italiano, mas que por fim falou em seu português mesmo. Na sequência “Upper Levels” e, claro, “Carry On”.
Mas não tem como dizer que a Ópera de Arame saiu ilesa, no bom sentido. A beleza do lugar encantou todo mundo a ponto de gerar uma esperança boa no público. “Falando em sonho e falando em banda, a gente tem mais um sonho que é o de gravar o acústico com orquestra e quem sabe filmar ele aqui na Ópera de Arame.”, revelou Bittencourt.
Resta apenas esperar que isso se torne realidade.