Não é uma jam session, mas, definitivamente, evidencia a ânsia de ser. Afinal, a maneira com que a bateria se movimenta nos primeiros instantes da composição, surte em um efeito de eletricidade e improvisação que transcende os limites do som. Quase como se tivesse oferecendo gratuitamente uma aula de como movimentar adequadamente as baquetas, o instrumento facilmente lança, ao ouvinte, uma ideia embrionária de se tratar de um prelúdio de uma canção jazz. O que acontece, porém, é que, cada vez em que ocorre uma quebra rítmica, o instrumento vai experimentando novas paisagens estéticas, mais precisas, concisas e sujas, sem a leveza libertária até então vivenciada. Após tal introdução enigmática, de certa forma, a canção leva o ouvinte para um cenário macio e de essência confortavelmente fluida. Com bom corpo fornecido por um baixo de groove encorpado e marcante, a faixa-título se amadurece como um perfeito produto rock alternativo em que, liricamente, explora uma espécie de condescendência social motivada em ver o protagonista sempre feliz.
Depois de uma contagem de tempo crescente feita por uma voz suavemente grave vinda de Angus Crowne, a canção mergulha em uma atmosfera de pura leveza e de um curioso senso de descontração. Fresca e delicada em sua verve blues praiana, a faixa aposta na sintonia harmônica entre o violão e o ukulele evidenciada na fusão entre a refrescância e o dulçor. Sem dificuldade e indo de encontro certeiro com a mais pura simplicidade, Crowne faz do enredo lírico de Lullaby Blues Revisited um produto eximiamente cômico. Com apenas “fuck you” como verso verbal, o cantor tira do espectador sorrisos frouxos e um afastamento aliviante da tensão e da sisudez. De paisagem instrumentalmente acústica em sua maior parte, a faixa ainda é agraciada por um solo de saxofone que, por meio de seu toque estridente e agudo, engrandece a atmosfera por formar um curto espaço de harmonia.
A nova introdução se mostra solar e com pitadas marcantes de uma sensualidade saliente. Misturando o rockabilly através da desenvoltura da bateria com rompantes de soul trazidos pelo trombone, a canção garante para si uma capacidade de atração irresistível que chama a atenção do ouvinte para mergulhar em sua paisagem estética. Contagiante, It’s Not Easy explora, também, certo grau de swing através do riff da guitarra na dianteira melódica, destacando uma essência atmosférica penetrantemente sertaneja transpirando da conjuntura rítmico-melódica.
A bateria novamente funciona como elemento introdutório. Com uma levada em 4×4 calcada em um midtempo, ela aparece suja e com uma embrionária postura enérgica. Conforme a canção evolui, esse viés efervescente vai gradativamente se elevando conforme a guitarra fornece um grau singelo de aspereza na melodia e o piano entra em cena através de uma sequência de notas sincopadas que, além de desenhar a cenografia harmônica, adere, na paisagem estrutural, toques marcantes de boogie woogie. Instrumentalmente, It’s So Nice To Meet You é uma obra bem trabalhada, ao passo que, no âmbito lírico, ela bebe da mesma estratégia de Lullaby Blues Revisited. Afinal, ela consiste na repetição do verso “it’s so nice to meet you”, a tornando um produto completamente hipnótico.
Autêntico e excêntrico. Essas duas palavras certamente carregam a alma de Everybody Want’s To See Me Happy. Afinal, entre melodias e aspectos harmônicos bem trabalhados, cada música de sua track list é agraciada por escopos líricos da mais simples natureza. Ainda assim, isso não impede de jeito algum que o material seja contagiante. Pelo contrário. Ele é um produto extremamente divertido e debochado.
Prova disso, em especial, está a faixa Lullaby Blues Revisited, a qual fornece uma leveza e uma suavidade invejável ao ouvinte que se aventurar pela sua audição. Além dela, as quatro primeiras faixas do álbum também merecem destaque por apresentar a receita rítmico-melódica em sua máxima forma. Do blues ao boogie woogie, Everybody Want’s To See Me Happy se embriaga em meio a uma paisagem músico-cenográfica sertaneja.
Com grande dose de sensualidade e eletricidade, o álbum também guarda pérolas de puro torpor, como é o caso de Love Ditty. De paisagem introspectiva e sensorialmente ecoante, a faixa mostra um caráter sentimental inédito no álbum, mostrando a versatilidade do Angus Crowne And The Family Jewels.
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