Gritos. Uma comunhão de vozes se acotovelando para ver qual alcança o maior tom, o maior destaque. A exaltação é tremenda. A excitação transcende os limites suportáveis e a energia já se encontra nas alturas assim que o chimbal começa, de forma seca, a desenhar a contagem rítmica.
Ao fundo, uma contagem regressiva é ouvida. No número três, se percebe um som oco que precede a entrada da guitarra em uma distorção de postura rebolante e provocativamente sensual. Grave, ela segue o comando do baixo que se encaixa na base melódica com um groove preciso e trotante tal como as frases percussivas são construídas.
Quando a introdução alcança a sua segunda metade, momento em que a guitarra começa a desenhar um riff icônico e de caráter ardentemente sexual, a plateia vai ao delírio. Porém, não muito depois, o público parece se colocar em uma postura de torpor frente à sonoridade que vai sendo construída.
Do momento em que o primeiro verso enfim se anuncia, o ouvinte percebe que não é apenas o instrumental que está afiado, sincronizado, afinado. O vocalista, com seu timbre agudo e de raspas azedas, também consegue exortar uma interpretação lírica equalizada de forma a acertar todas as notas, sem desafinar.
É no refrão que Dr. Feelgood, com os escopos lírico, melódico e rítmico já conquistados, garante seu aspecto harmônico por meio de backing vocals femininas oferecendo um apoio aveludado ao vocalista. A versão ao vivo do single homônimo do álbum de estreia do Mötley Crüe mostra que o grupo, desde seu alvorecer, tinha a plateia nas mãos, a máxima consciência musical e a determinação de chegar ao topo não só do universo rock n’ rol, mas da música global.
Mais informações:
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCq2g_Vcu3J1OwNRmdTNoxYA