O Sol está nascendo no além das colinas. O verde do gramado afrente da janela ainda se encontra úmido pelo orvalho da manhã. Ainda assim, o céu não se encontra em uma pose crepuscular de agradável energia. Apesar de estar imerso em uma mistura de tons suavemente místicos em degradê do roxo ao laranja, a vivacidade é algo que não é transmitido tal como se espera. Nesse cenário, é a melancolia que domina.
Doce em sua essência, mas entristecida a ponto de ser lacrimal graças à forma como o piano se movimenta, a melodia introdutória é perfumada por um aroma interessantemente fresco e simultaneamente gélido. Conforme vai se desenvolvendo calmamente, a sonoridade passa a ser preenchida por um violão cujos riffs são capazes de introduzir doses extras desse mesmo torpor choroso.
Nesse ínterim, uma voz aveludadamente gélida entra em cena. Vinda de Isabel Maria, ela vem sob uma interpretação lírica intimista, reflexiva e triste. Capaz de mostrar ao ouvinte que a personagem se encontra com os pensamentos distantes da realidade, tal performance começa a introduzir um enredo dramático que, na voz da cantora, atinge traços viscerais.
Ainda que seja regida por um refrão de estética pop-sintética e ligeiramente dançante, At Least We Don’t Have Kids é uma canção que mostra o sofrimento de uma garota frente à imersão de seu par à rendição ao universo sombrio da depressão. Uma obra que, de alguma forma, coloca sobre a mesa a necessidade de se falar da saúde da mente e do coração.
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