A maneira como o piano puxa a introdução é como se possibilitasse ao ouvinte uma espécie de teletransporte para um cenário melancólico, mas, interessantemente, tocante. Sob um céu cinza e chuvoso, o solo umedece e o horizonte se torna parcialmente turvo. Ainda assim, em meio às densas camadas de nuvem, é possível de se identificar frestas de uma luz natural que jorra, sobre a tristeza, agradáveis e necessários requintes de esperança. Inicialmente banhada por uma ambiência atmosférica e delicada, a canção logo dá vida ao seu primeiro verso a partir do momento em que as linhas líricas começam a ser desenhadas. E o responsável por esse movimento é uma voz masculina de timbre equilibrado entre grave e agudo. Por meio dele, o conteúdo verbal é entoado de maneira sentimental ao ponto de tangenciar até mesmo o visceral em sua dramaturgia sofrida. Com essa cenografia, Should’ve Dressed For The Event mergulha em um refrão de cunho catedrálico, rascante em sua energia sentimental e tocante em sua harmonia esotérica, mas ainda assim capaz de despertar um intrigante senso funesto.
O chiado que se pronuncia de súbito na introdução imediata já confere à canção notas de uma crueza aparentemente propositais. Enquanto notas aveludadas e doces vindas do teclado pairam pelo ambiente como uma forma de aconchegar o espectador, uma voz feminina de timbre agudo e igualmente doce surge dando início ao novo quadro lírico. Aqui, o sentimentalismo tangencia com notas de uma sensualidade indireta que confere à obra um estado entorpecente em relação às memórias. É como se, em meio à imensidão do horizonte, os pensamentos fossem imediatamente redirecionados para um passado que guarda informações marcantes à personagem. É interessante notar que, nesse processo, Just Wanna Feel You vai desenvolvendo uma atmosfera tocante e ligeiramente açucarada que a faz transpirar toques de um curioso romance que soa como algo imaginário. Algo cujo desejo recai sobre a necessidade do perdão e de, talvez, reconciliação.
Uma introdução surpreendente estende as mãos ao ouvinte. Violinos e violoncelo se encontram em uma valsa clássica e melódica em sua delicadeza equilibrada entre delicadeza e grosseria, agudez e grave. Nesse sentido, é como se o amanhecer de Like No One Could conseguisse representar a pungente dicotomia de emoções vivenciadas pelo eu-lírico em seu início narrativo. Choroso, sofrido, melancólico e, também, nostálgico, o personagem parece, aqui, representar toda a agonia e o desespero daqueles que se sentem sozinhos e relegados à sua própria dor. E é exatamente aí que o protagonista lhe oferece consolo, compaixão e alento para extravasar seu sofrimento e poder seguir de maneira leve e emocionalmente amadurecida no caminho da superação.
É difícil encontrar beleza na dor, no luto, na separação. É difícil acessar o perdão. É difícil olhar no horizonte e enxergar, nele, a luz capaz de iluminar o coração e servir como um remédio, uma dose de ânimo. Behind Every Beautiful Thing é um álbum que veio para auxiliar o ouvinte a conseguir fazer todas essas ações de forma sincera e honesta.
Afinal, por meio da direção do Flora Cash, o álbum, que tem previsão de lançamento para 23 de outubro, consegue ser uma perfeita mescla entre escuridão e luz. Plenitude e dor. Nostalgia e realidade. Um produto que, pela forma como foi concebido, já dá ao espectador, a partir de suas três primeiras canções, a percepção de se tratar de um trabalho que aborda a aceitação às mudanças. Acima de tudo, encontrar beleza nas imperfeições da vida.
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