É curioso perceber como textura e aroma conseguem se fundir em uma singeleza confortável e, inclusive, nostálgica. Por meio das notas borbulhantes do piano, o ouvinte se sente fisgado pelas memórias em meio a um torpor que transborda um senso desmedido de gratidão e até mesmo êxtase. Com ligeiras menções dramáticas, Mother é aquela faixa em que o coração se aquece, os olhos umedecem e a mente relembra. É um misto de felicidade, saudade e, de fato, gratidão que extravasa das teclas com notável singeleza.
A maneira como Carl Liungman faz o piano ressoar as teclas dá ao ambiente uma energia cabisbaixa, triste, dolorida. O céu fica cinza e, a brisa, gelada. É como se não houvesse qualquer sinal de conforto, aconchego, proteção ou compaixão. É apenas a solidão. O corte. A dor. A nostalgia, aqui, não vem de forma agradável ou emocionalmente feliz. Vem com uma saudade difícil de sanar. Com uma vontade pelo toque sem meios de se concretizar. After é, simplesmente, a sonorização do processo de superação da perda, seja ela físico ou emocionalmente.
Nesse cenário, diferente do anterior, não existe tristeza ou dor. O que tem é um interessante requinte de esperança, de motivação. De uma energia curiosamente inspiradora, estimulante. É como o necessário e desejado acesso à redenção. Em meio a requintes de drama, Final Days traz um dulçor delicado capaz de tocar o coração até mesmo daqueles mais sisudos. Afinal, conforme a melodia se desenvolve, a canção passa a ter a capacidade de fazer a memória criar as sensações daquelas ocasiões lembradas. De ouvir as vozes, de sentir o toque. Da companhia física. Dessa forma, pode até entender a presente canção como uma obra complementar a After, criando, assim, uma atmosfera densamente sentimental.
Change é um álbum que mostra a capacidade, a musicalidade e, acima de tudo, a sensibilidade de um músico que faz, do seu instrumento, uma espécie de máquina que propõe o reviver. O reviver de emoções, de ocasiões. O reviver da presença. O reviver do som. O reviver do toque. Um álbum que, a partir de um único instrumento, faz a emoção transcender os limites do som por meio de sua delicadeza estrutural, algo que se destaca já nas primeiras três composições. Um material que cura, mas, também, que ajuda a viver e superar a dor.
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