Seu despertar já é repleto de punch. De sujeira. De punk. De atitude. De rock n’ roll. Em meio a uma melodia soturna e de andamento lento que quase flerta com a temática do doom metal, I Declare A Clone War mistura uma interpretação lírica entorpecida com uma espécie de esquizofrenia agonizante. Com ligeiros requintes de stoner rock, a canção não demora a ficar intensa e visceral, conforme a cantora vai dando sinais de entrega cada vez maiores e mais profundos. Combinando uma essência sonora híbrida entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000, a canção parece dialogar a respeito não apenas de predadores sexuais, mas da manipulação a partir da carência afetiva.
Nascendo grave e sinistra, a nova canção passa a explorar nitidamente aromas e sabores voltados ao azedo, mas ainda mantendo sua base punkeada. Com uma essência ainda mais de garagem e mais suja, Spock Choy traz uma interpretação lírica regida por um senso superior de loucura e misturado com um desespero mascarado pela manipulação do torpor. Comunicando uma influência talvez despropositada da sonoridade do Hole em sua estrutura melódica, Spock Choy questiona a moral da sociedade conservadora e a necessidade de se mostrar ao mundo da maneira como o indivíduo se sente. É o som da rebeldia ante a censura institucionalizada.
Mais melódica, mas ainda soturna, a nova faixa apresenta um protagonismo marcante do baixo, que transcende a base rítmico-melódica ao transpirar um groove grave, estridente e recheado de azedume. Densa e teatral, Push-up King fornece uma espécie de dramaturgia que flerta com a temática do circo dos horrores, enquanto, entre vocais embriagados em um senso de loucura tátil, uma melodia cada vez mais densa, lenta e penetrante vai sendo desenhada. Não é de se espantar que, de todas as faixas até então apresentadas de Chimera, Push-up Kings seja aquela de enredo mais mórbido, carniceiro e regurgitante.
Elétrico e subitamente enlouquecedor, A Duck Of A Different Colour foge nitidamente do marasmo lento e mórbido de Push-up King ao introduzir uma melodia de cadência rítmica mais acelerada e vívida. Com toques de uma libido claramente despropositada, a canção exibe uma sensualidade crua, enquanto seus instrumentos se combinam em uma sinergia alternativa que muito bebe da fonte do grunge. É assim que A Duck Of A Different Colour parece, assim como em Spock Choy, abordar o conservadorismo e a sede por quebrar os padrões em um ímpeto de sangue quente.
Chimera é um EP que precisa de estômago para ser degustado. Elétrico, ardente, fúnebre e soturno, o material mostra um Fantømex misturando as essências do grunge com melodias que marcaram a virada do milênio. Ainda assim, o que prevalece é a sua audácia em oferecer um som de garagem, sujo e cheio de lirismos de interpretações provocantemente esquizofrênicas.
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