Seu início é regido por uma guitarra de riff espacial e ácido que sobrevoa o ambiente quase como um personagem onipresente que observa o mundo de cima. Assim que a bateria entra com um repicar amaciado, mas de essência curiosamente crua, a canção flui para uma segunda etapa introdutória encorpada pela presença notável do baixo na base melódica. Contudo, dentro desse aspecto de garagem, a música, a partir do momento em que o primeiro verso se inicia, assume silhuetas psicodélicas com o auxílio do sonar do órgão hammond fornecendo uma harmonia adocicada, mas, ao mesmo tempo, gélida e ácida. Regida por um cantor de timbre vocal agradavelmente grave, Año Nuevo traz uma Ciudad Desierto oferecendo um cenário urbano de levante, de rebelião. De manifestação contra a corrupção. Uma música que incita uma espécie de caos organizado em prol do desmonte de vícios governamentais em que o dinheiro se concentra nas mãos de poucos.
Pela forma como a guitarra se movimenta, o ouvinte já consegue perceber uma contagiante sensualidade sendo desvendada. Se tornando ainda mais swingada com a entrada do teclado e da bateria em seus chimbais trepidantes, a canção fornece ao ouvinte um primeiro verso que pode ser perfeitamente definido como um recorte musical groovado. Com protagonismo absoluto e indiscutível do baixo, o trecho traz uma espécie de provocação gélida e entorpecente. Com um refrão que destaca a fusão do pop com pitadas de disco music, Clarisa é uma canção em que a personagem principal apresenta um recorte comportamental sufocante perante as diretrizes sociais e que, portanto, necessita e deseja do máximo acesso a tudo aquilo que signifique e que lhe ofereça o senso de liberdade.
A bateria repicada em uma estrutura ligeiramente tersinada é o elemento que funciona como um abre-alas solitário do novo ambiente. Macio, delicado e açucarado, o cenário traz uma espécie de êxtase reconfortante capaz de beirar, até mesmo, a nostalgia. De essência entorpecente, Otra Vez traz um refrão versado na forma de uma onomatopeia uivante que a torna chiclete aos olhos do ouvinte. De estrutura comercial e radiofônica, a presente obra tem uma base sensorial melancólica, enquanto parece dialogar, sob um sabor curiosamente romanceado, da vontade que o protagonista tem de fazer a coadjuvante entender que a memória é apenas seletiva e que ela não se deixa esquecer dos acontecimentos passados.
A psicodelia, a sensualidade e o aroma urbano se encontram na nova introdução. Com uma sensualidade latina semelhante àquela presente em Clarisa, a presente canção apresenta uma aura curiosamente espiritual que se intensifica a partir da forma como a convidada Oneira interpreta o lirismo e se posiciona como uma backing vocal ampliando, com delicadeza, a harmonia vocal. Repleta de cenários melódicos hipnóticos, El Alto é uma canção que, ambientada no deserto, traz o acesso à pureza, à espiritualidade, mas, principalmente, destaca o apoio quase desesperado na fé. Uma fé que é buscada para acalentar um indivíduo imbuído em sua própria internalidade triste e melancólica que vê no céu límpido e estrelado a figura de um ser religioso capaz de reequilibrar seu emocional.
Música Para Humanos é um álbum que traz um uruguaio Ciudad Desierto com a proposta de ser sensitivo, pessoal e, de certa forma, até mesmo transcendental. Cada indivíduo, cada ouvinte que se aventurar por escutá-lo, terá diferentes emoções despertadas pelo vasto cardápio melódico que possui.
Entre conteúdos sociais e espirituosos a ponto de serem tangenciados por uma essência humana e profunda, o material é construído com tanta transparência que, pela audição de suas três primeiras músicas, o espectador já é capaz de identificar o caminho dialógico que seus lirismos e melodias desejam traçar.
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