É interessante perceber que, mesmo envolta em uma densidade notavelmente melancólica, a canção, por meio de uma cama adocicadamente aguda fornecida pelo que parece ser o sintetizador, consegue ofertar agradáveis e necessários lapsos de esperança ao ouvinte. Estruturalmente delicada até mesmo no que tange o entorno rítmico, o qual, inclusive, se apresenta sobre incursões minimalistas, Lifetime, assim que começa a ser regida por uma voz feminina de caráter grave, passa a promover um senso de pegajosa dramaticidade envolvida em uma generosa camada de melancolia. De posse de Frida NOVA, essa voz, na forma como é inserida interpretativamente, é capaz de amplificar a melodramaturgia, detalhe esse que é extravasado, curiosamente, no instante em que a faixa se aventura por entre uma assinatura electropop audaciosamente dançante.
Diferente daquilo que foi ofertado na canção anterior, a nova atmosfera, desde seu despertar imediato, promove um senso contagiante de swing e um ímpeto embrionário de ânimo. Mantendo seu viés de delicadeza escultural, a canção chama a atenção pelas suas frases percussivas repicadas, pelo seu baixo bojudo de groove saliente e pelos dedilhares do piano estarem presentes de maneira a tangenciar, simultaneamente, o veludo e o swing. Colocando o jazz sob os holofotes, Base Camp ainda dá vasão, através da desenvoltura da guitarra, de um contexto adoravelmente flertante com o soft rock.
Indiscutivelmente, é chegado aquele ponto em que se atinge o máximo. O ápice. O ponto alto do drama e da melancolia. Aquele instante em que o tocante se mostra tão profundo que consegue transcender os limites do som e se infiltrar no espectro sensorial do espectador. Através de seu arranjo introspectivo e melodramático, a canção se desenvolve com o auxílio de uma bateria repicada em meio a golpes feitos de maneira bem serena, além de frases de baixo que promovem uma noção de fluidez bastante encorpada. Nessa linha de sensorialidade, o piano acaba funcionando como uma espécie de portal para um mundo de utopia emocional. Um universo em que o dulçor e a fragilidade imperam impedindo a invasão de sensos de dor, sofrimento ou mesmo pesar. Não é à toa que, ainda com base no jazz, The Healing Mountain sirva não apenas como a primeira balada de Rebirth, mas encapsule, de maneira mais direta, a mensagem de renascimento, cura e superação.
É até capaz de fazer verter água pelos olhos. Afinal, seu início é de uma delicadeza tão latente que traz consigo um rompante nostálgico capaz de fazer o ouvinte mergulhar em suas próprias memórias, despertando, assim, emoções há muito represadas. Por meio do violão e sua desenvoltura delicadamente ondulante, é importante ressaltar que a obra também é capaz de surtir em sensos de conforto como uma metáfora à compaixão, ao alento e, até mesmo, à proteção. Calma e branda, Still Believers, agraciada por uma cama adocicadamente ácida inserida pelo hammond na base harmônica, vem como sendo aquele instante que coloca à prova o quanto a personagem tem fé. O quanto acredita em uma força maior e se apoia em uma espécie de crença de que tudo tem um motivo para ser. Não é de se assustar que o ouvinte, de alguma forma, se sinta profundamente representado. Afinal, acreditar em algo que não se pode tocar soa como um desafio completamente infundado àqueles que presam, única e exclusivamente, pela racionalidade.
Rebirth é um álbum que chega para causar. Mas não de forma depravada, debochada ou para angariar ouvintes de forma desenfreada. Até porque, a sua essência sonora não é, necessariamente, radiofônica. Nem mesmo seus lirismos são leves a ponto de soarem como meros enredos feitos para entreter. O álbum inteiro é um desenrolar visceral e cirúrgico das diversas camadas emocionais que regem a figura de Frida NOVA.
De viés indiscutivelmente autobiográfico, o álbum disseca a essência da cantora como uma forma de levá-la a um processo de honesta e sincera elevação. O interessante, nesse processo, é notar que, toda a track list faz do disco um produto conceitual, uma vez que apresenta um movimento linear do caos ao êxtase.
Convidando o ouvinte a caminhar por ambientes cheios de dor, decepção, culpa e um sofrimento pungente, Rebirth, gradativamente, vai mostrando certo amadurecimento emocional da protagonista. A partir dele, a cantora consegue alcançar não apenas a redenção, mas uma paz de espírito que lhe permite acessar, no mais íntimo do seu ser, toda a força que possui. Toda a confiança. Toda a certeza. Toda a imponência que a faz espantar, definitivamente, aquela imagem de mulher frágil e vulnerável.
Musicalmente falando, é até bonito de ouvir as nuances melódicas que o álbum guarda em sua desenvoltura. Com menções de jazz, pop e até mesmo de electropop, o produto sugere uma espécie de dança perante a dor como uma forma de derrotá-la. Com sensualidade, delicadeza e torpor, não é à toa que as quatro primeiras faixas da track list se destacam. Afinal, elas escancaram a realidade da metamorfose de uma mulher indefesa para uma mulher decidida e altiva.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/5dVirkj5h9gnIn1HVQNFRY
Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=61571801734039
Facebook: https://www.facebook.com/fridamatsdottermixtur/
Soundcloud: https://soundcloud.com/user-699427762
YouTube: https://www.youtube.com/@FridaNovaMusic-m1x
Instagram: https://www.instagram.com/fridanova.music/