“‘Insomnia’” não é apenas um álbum – é o retrato de um artista navegando pela incerteza com os ouvidos abertos e o coração cheio”. Essa é a principal premissa do disco de estreia do saxofonista, compositor e produtor Shahar Amdor, israelense radicado em Los Angeles, nos Estados Unidos, que gravou o trabalho, segundo ele mesmo, “durante um período de profunda transição pessoal — incluindo mudanças geográficas, relacionamentos à distância e a incerteza da vida pós-pandemia”.
O primeiro fato é que o trabalho prova que peso não depende somente de bateria intensa, guitarras distorcidas, vocais agressivos e elementos que caracterizam a música densa em geral. Peso também pode ser descrito pelo clima e a intensidade que o som é executado.
Primero que a música de Shahar é instrumental, logo já dispensamos os vocais agressivos. Segundo que a guitarra não é o fio condutor aqui, soando mais como um auxílio. Terceiro que a cozinha tem um trabalho fundamental, afinal de contas, estamos falando de jazz e a bateria deve ser primordial, mas não densa como de costume. O negócio aqui é a versatilidade e também o ponto certo. E isso ele acerta em cheio, trazendo seu sax como o condutor principal.
São onze músicas em quase 50 minutos onde ele mostra a junção de técnica e feeling da forma mais natural possível. Escrito durante noites sem dormir e moldado em três cidades – Tel Aviv, Boston e Los Angeles, o disco prima por essa variação ambiente, onde o clima transparece desde momentos mais tensos, quanto outros relaxantes e alguns mais introspectivos.
O álbum conta com colaboradores internacionais que Shahar conheceu ao longo de anos de apresentações e estudos no exterior, o que acaba dando ainda mais versatilidade ao disco, que tem como referências músicos como Avishai Cohen, Bon Iver e Shai Maestro, mas com o molde sendo a própria personalidade do artista.
Com um clima cinematográfico, as faixas são destiladas em camadas um tanto quanto caóticas, mas essenciais ao plano final, que é entregar um trabalho fora do comum, mas que não soe tão experimental. O resultado são faixas cheias de detalhes e que ficam mais interessantes a cada audição.
Destaque para “First Step Is the Hardest”, um épico de mais de 8 minutos que traz uma mescla perfeita de jazz rock, a virtuose “Don’t Panic, Control Yourself”, que mescla momentos explosivos com outros suaves e “The Easy Way To Get Away” com sua veia alternativa. Mas, ouça por completo e desfrute de um som sofisticado e denso.
