O álbum já tem seu início marcado por uma canção de introdução baseada em uma atmosfera densamente embasada em um senso de torpor. Doce, ligeiramente dançante e agradavelmente sintética, a obra rapidamente se transforma em algo contagiante e, inclusive, hipnoticamente dançante que tira o ouvinte de sua zona letárgica e o instiga a dançar, mesmo que à sua própria maneira. Capaz de surtir em um curioso senso de frescor, Elevate traz uma delicadeza estética charmosa em sua doçura sutil até que desemboca em um refrão contagiante em sua esfera solar, mas embebida em sua paisagem eletrônica.
Mantendo seu estado de torpor, o álbum encaminha o ouvinte para uma faixa em que, já a partir de sua paisagem nascente, ela consegue transmitir um certo quê de enigma que instiga o espectador a querer saber e conhecer os próximos passos dessa nova narrativa. Misturando leves noções de estridência com uma espécie de dulçor que já se mostra padrão por parte da sonoridade do ReSet Ryan Tram, Anew é onde uma atmosfera curiosamente mais espacial tange com a transcendentalidade em sua máxima proposta experimental.
O torpor é o elemento sensorial que recebe o espectador nessa nova atmosfera. Curiosamente, porém, aqui o músico apresenta uma roupagem estética um tanto inovadora. Afinal, em meio ao eletrônico já consagrado nos capítulos anteriores, existe uma experimentação um tanto mais orgânica em virtude da inserção do groove aparentemente fornecido pelo baixo. É ele que faz de Past The Sun uma obra com base melódica mais encorpada e, inclusive, mais consistente. A partir dela, é interessante ver como a desenvoltura da canção permite ao ouvinte a identificação de uma elevada noção de delicadeza e frescor, detalhes observados anteriormente, mas não na gama como se mostram na presente paisagem.
É como entrar no sono REM, ou como atingir a máxima plenitude sensorial sem o auxílio de artifícios sintéticos. O torpor é garantido de forma fluida e orgânica, mas capaz de surtir em momentos de aparente desligamento do estado de consciência. É aí que o espectador se percebe imergindo, gradativamente, no universo secreto de sua própria mente. Do seu inconsciente. E nesse mundo de maravilhas não desconhecidas, mas não tanto exploradas, a audiência se vê intrigada a pesquisar e a descobrir mais sobre sua própria identidade. E o interessante é que a sensação de elevação, de flutuar que Above garante, auxilia generosamente nesse processo. Como um mantra agradável e amorfinante, a faixa é um perfeito convite à mais terna introspecção.
Esse não é mais um álbum de caráter instrumental, muito menos mais um número no montante de trabalhos experimentais espalhados pelo universo musical. Por meio de sua paisagem eletrônica, Digital Voyage Vol. 1 consiste em um conglomerado de sutilezas estéticas que entorpecem e amorfinam, além de garantir um senso de bem-estar incomensurável.
Pela delicadeza com que ReSet Ryan Tram o construiu, já a partir das quatro primeiras obras o espectador consegue identificar todo o seu caráter sonoro-sensorial. É aí que se garante a percepção de se tratar de um material em que é contada uma história de amigos separados em um mundo digital.
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