A delicadeza com que a introdução recebe o ouvinte é algo que, definitivamente, merece o devido destaque. Afinal, ela se pronuncia generosa, serena e com uma postura tão educada que chega a, até mesmo, desfilar um certo charme encantador. Suave, portanto, em sua máxima essência, a música convida o espectador a mergulhar em um universo astral, transcendental e quase espiritual. Capaz de promover um agradável súbito de relaxamento, ADHme, com seus chiados que indicam leve imersão na seara do lo-fi, quesito que é abraçado pela densa ambiência atmosférica que a canção experimenta, faz com que o público chegue embriagado ao seu primeiro verso, momento que, finalmente, o enredo lírico começa a ser desenhado. A partir desse instante, uma voz feminina aguda e de timbre açucarado de leve veludo se posiciona na dianteira melódica produzindo uma cadência melódica que evidencia o caráter indie pop da faixa. É nesse processo que, inclusive, ADHme acaba flertando com a estética melódica vocal que George Ezra proporcionou em seu single Budapest.
Capaz de fazer o ouvinte se sentir imerso em um sonho, a canção, rapidamente através do tilintar opaco das baquetas, consegue fazê-lo recobrar a faculdade lúcida. A partir dessa sonoridade, portanto, a canção encaminha o espectador para uma paisagem macia, agradavelmente sensual e banhada por uma melodia contagiantemente radiofônica. Nesse recorte, o público consegue degustar cada elemento sonoro tanto em sua individualidade quanto no seu caráter coletivo. Do baixo encorpado e delicado em sua singela rigidez à guitarra que sobrevoa a dianteira melódica com um som de essência fresca, é possível de se perceber cada energia proporcionada pela esfera rítmico-melódica. Agraciada por um vocal que, agora, se mostra em sua forma mais aveludada, Speak consegue ser entorpecente por meio de sua harmonia frágil, doce e atraente. Uma composição que, pela sua arquitetura, certamente continuará ressoando no inconsciente da audiência por um longo tempo.
De maneira surpreendente e, até mesmo, ousada, o que puxa a introdução é o puro sonar da distorção da guitarra. Curiosamente, porém, o que se segue é um violão de riff presente em meio à sua sonoridade embebida em intenso frescor. Desde seu início imediato conseguindo ser tão, ou até mais contagiante que Speak, a presente canção mantém a estética rítmico-melódica em sua silhueta atraentemente radiofônica. Mostrando Siobhan McGinnity explorando suas técnicas a partir de falsetes bem executados de forma a destacar sua consistência vocal, Down é uma canção que, também na esfera sonora, se propõe experimentar a estridência como um tempero que auxilia na elevação dos sabores de sua sonoridade conjuntural.
Agradável pode ser a primeira palavra a definir o álbum, mas não a principal. Entre seus caráteres suave e radiofônico, Diplacusis é um trabalho marcado pelo seu frescor. Inquestionavelmente. Sendo ele o ingrediente que molda toda a experiência sensorial do ouvinte, a delicadeza acaba se tornando uma espécie de consequência.
Por meio de seu indie pop aveludado, o álbum consegue, ainda, explorar estridências e aromas capazes de se complementar na elaboração de canções atraentes, aqui com especial menção aos três primeiros títulos de Diplacusis. Um álbum que, além de bem mixado, promove uma experiência sensorial extremamente agradável.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/artist/56k0CSI1msjObDnftyLPBV?si=eWE-mr6mTB6JxHcGIF__xw
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