Evergreen- Walk To Paradise Garden | Trappist Afterland lança álbum que desafia o tempo e as tendências

O despertar da canção não traz, somente, uma essência propriamente folclórica. Traz consigo o passado em forma de uma sonoridade que emana uma atmosfera mitológica tal como se fosse a sonorização de uma lenda. Fresca em certa medida, a melodia estruturada pelo instrumento de corda que se evidencia mistura dulçor e o bucólico através de uma receita equilibrada. De caráter nórdico e capaz de explorar uma paisagem de céu cinza, mas sem fornecer, necessariamente, um senso melancólico, The Squall, assim que é preenchida pelas linhas líricas, dá ao ouvinte um aspecto de crueza surpreendente. Colocando o lo-fi como evidencia, a maneira como Cole desenha o enredo verbal traz a fantasia e, portanto, a imaginação aflorando através de um curioso despertar de torpor.

Uma sonoridade penetrantemente oriental de caráter árabe preenche a atmosfera de forma a, quanto mais se desenvolve, espalhar uma pegajosa energia de suspense que desperta, no ouvinte, certo grau de tensão associado à fragilidade, mas, também, a uma curiosa expectativa em saber o desenrolar da narrativa. De identidade gélida e interessantemente melancólica, a canção se aventura por uma paisagem estética mais sombria que convida o espectador a se permitir sentir uma energia não apenas introspectiva, mas reflexiva e até mesmo visceral. The Good Old Way é uma canção que, por meio de sua atmosfera hipnotizante, oferece, inclusive, certo quê de angústia e desconforto que, para o espectador, tem uma origem sensorial enigmática.

É um álbum de essência acústica e de sonoridade folclórica. Porém, a maneira com que foi estruturado faz de Evergreen- Walk To Paradise Garden um produto bastante cenográfico cujas texturas exploram paisagens míticas e desconcertantes. Por meio da beleza de se conseguir arquitetar um conciso e coerente instrumental folk, Cole se propôs extravasar seu temor, sua tensão, sua angústia e seu torpor por meio de sonoridades que causavam conforto e, ao mesmo tempo, instabilidade. 

Uma forma audaciosa de representar a sua relação com a realidade de sua mãe, que, lentamente, se deteriorou em virtude da demência. E é justamente aí que as duas primeiras faixas do álbum se destacam: no oferecimento de um torpor inerente à negação da realidade à seriedade de um cenário irreversível.

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