Um sonar ácido e sintético é acompanhado por outro, enigmático e trepidante. Tal como se o ambiente fosse ausente de luz, o viajante se vê pisando em um chão lamacento, escorregadio, limoso. Com essa textura grudenta fazendo os pelos se arrepiarem, ele segue com destreza, mas rumo a nenhum lugar. Apenas caminhando sem direção em um ambiente aparentemente inóspito regido, apenas, por essa sonorização que vem como alarmes para algo ainda incerto.
Depois de uma pausa de milésimos de segundo em que o personagem se viu na companhia apenas do silêncio ensurdecedor e aterrorizante, essas sonoridades agora são domadas por um ritmo amaciado, mas inserido na seara da música eletrônica. Possibilitando também a percepção de flertes nítidos com a paisagem sonora do lo-fi e inclusive do sci-fi, Extract explora um viés sombrio em meio a um estilo musical de essência dançante.
Oferecendo um refrão em que a melodia estruturada chega até a ser surpreendentemente contagiante em sua repetição estrutural propositada, a canção consegue proporcionar vertigens de torpor e de vieses curiosamente orgânicos ao ouvinte. Ainda assim, o que salta aos ouvidos é, de fato, uma temática sonora imbuída na sensorialidade do sombrio e do tecnológico. Uma canção que, nas mãos do Lockdown, alucina, hipnotiza e transcende o ouvinte para ambientes onde o digital é o protagonismo absoluto das relações sociais.
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