Antes mesmo que o primeiro sonar definitivo tome conta do espaço, a canção já consegue ofertar ao ouvinte um interessante senso de suspense que prende a sua atenção e sugere que assuma certa ansiedade e, também, expectativa perante os próximos passos sonoros. O que acontece é um desenvolvimento instrumental que explora a sensualidade e o groove de maneira ligeiramente crua, mas que flerta com a roupagem do jazz. Sensual e agraciada por uma cama harmônico-sintética que lhe confere notas transcendentais, Incandescent Grace passa a ser liricamente narrada por uma voz masculina de natureza aguda e aveludada que namora o uso de falsetes. Delicada e esteticamente macia, é importante ressaltar que, a presente obra, tem a capacidade de mesclar torpor e psicodelia com notável versatilidade.
Ela já nasce madura em sua proposta sensorial. Densa e até mesmo sombria, a faixa acaba explorando sensos de insegurança e vulnerabilidade enquanto se aventura por interessantes lapsos de melancolia que preenchem sua atmosfera. Regida por uma bateria de andamento ligeiramente lento em seu viés curiosamente aveludado, a canção se apoia no groove acentuado e grave do baixo como sendo um elemento que lhe confere lucidez em meio a um senso de desolamento. Ecoante e, a partir daí, soando até mesmo fantasmagórica, You Better Know mantém a estrutura linear destacada na composição anterior enquanto explora ainda mais as suas próprias capacidades de sugerir a morfina e a introspecção de maneira pungente.
Aqui a introdução é trazida sob uma estrutura, no mínimo, excêntrica e inovadora no que se refere aos amanheceres anteriores. Estruturada a partir de uma harmonia vocal resultante da união entre o vocalista e seus backing vocals, ela permite ao ouvinte, além de degustar, mais profundamente, das características do timbre do cantor, perceber um andamento mais preciso e calcado no blues no que tange a esfera rítmica. É verdade que The Crux Of Potential ainda soa entorpecente, mas ela desvia, mesmo que minimamente, do excesso de morfina. Isso acontece através da precisão e sensualidade rítmicas, bem como da evidência de maiores extensões vocais expressas pelo cantor, deixando a obra um tanto mais intensa e visceral. Na faixa, entre as evidências de notas agradavelmente roucas vindas do cantor, a guitarra solo se apresenta por meio de gritos regozijantes que podem soar até mesmo como suspiros agonizantes, o que torna a sua atmosfera ainda mais profunda.
If Seven Was A Number é um álbum marcado por uma experimentação de texturas mais imersas no âmbito da introspecção, do intimismo e da reflexão. Entre densidade e sensualidade, o ouvinte ainda percebe uma interessante combinação entre misticismo, psicodelia e torpor que torna a experiência auditiva uma verdadeira viagem sensório-psicológica. Não é de se espantar, portanto, que as três primeiras faixas mereçam mais atenção.
No entanto, é necessário pontuar que, em uma track list de 10 músicas, existem outras que também pedem uma audição mais cuidadosa. Títulos como a melancólico-minimalista Broken From The Inside e a operístico-gutural Phantasmagoria são exemplos claros dessa constatação. Com o auxílio delas, If Seven Was A Number como uma viagem musical única que caminha perante a condição humana.
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