O cenário que se tem é sombrio. Um sombrio em que não existe a mínima possibilidade de haver frestas de luz por entre as pedras que preenchem as paredes. De clima denso e tenso, portanto, a sonoridade ácida e ligeiramente estridente que recebe o ouvinte, vai se tornando curiosamente macia e fluida a partir da maneira com que a bateria desenha a base rítmica. É nesse ínterim que uma voz editada amplificando o grave surge em cena aumentando e expandindo o senso de temor e insegurança. Felizmente, porém, do momento em que a guitarra se coloca na dianteira melódica em diante, a canção assume uma silhueta mais amistosa e de degustação mais agradável. Entorpecente em sua máxima essência, Ovation In Our Minds acaba, audaciosamente, levando o espectador para um cenário eletrônico, conforme vai se desenvolvendo. Garantindo, a partir daí, um caráter ligeiramente dançante, a canção passa a caminhar livremente pelos terrenos da house music e, também, da EDM.
Delicada em seu torpor curiosamente fresco, a canção, por meio de sua ambiência amorfinante, propõe um profundo ato de introspecção, ao ponto de fazer o espectador atingir cenários de seu inconsciente guardados e inacessíveis por um longo período de tempo. O curioso é que é nesse processo em que a insegurança acaba escapando e se fazendo perceptível através das feições e atos realizados pelo indivíduo. Caminhando por requintes astrais que misturam texturas new age com um esoterismo latente, Scary Hour é a sonorização em que a melancolia e o sombrio abraçam por completo o personagem lírico, consumindo todo o seu brilho e ânimo. Não à toa que a canção escancara um protagonista vivendo na consciência de ter perdido seu propósito de vida e, surpreendentemente, conformado com tal fato.
Uma sonoridade sintética ácida é ecoada no ambiente através do sintetizador. Mantendo, a partir daí, a atmosfera sombria já vivenciada nos dois títulos anteriores, o instrumento segue sendo o protagonista melódico e o responsável por delimitar a energia a ser difundida na presente canção. Curiosamente, assim que as linhas líricas começam a ser preenchidas por um vocal que se apresenta sob uma silhueta interessantemente gélida, a canção acaba assumindo para si um caráter sedutoramente espectral em meio ao seu veludo amorfinante. Dessa forma, The Other Side acaba soando como uma obra complementar a Scary Hour. Afinal, aqui o espectador acaba em contato mais direto com a realidade disruptiva criada pelo protagonista de maneira a destacar a sua frágil saúde mental.
Gists Of The Dusk é um produto que pode ser definido como um álbum repleto de storytelling. Afinal, cada uma de suas 12 canções possuem enredos líricos muito bem construídos de forma a prender a atenção do espectador, que se coloca na ânsia de suas interpretações.
Nesse processo, Lancelot Chen convida o ouvinte a mergulhar por cenários de texturas sintéticas que o abraçam por meio de energias amorfinantes, melancólicas e viscerais ao passo que, entre outros assuntos, destaca a fragilidade emocional e mental à qual o protagonista lírico está inserido. Tais fatores podem, pela profundidade e intensidade com que Gists Of The Dusk foi concebido, ser identificados já nas três primeiras faixas do álbum.
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