É curioso perceber que a canção, desde seu início imediato, é capaz de imergir o espectador nas profundezas de um mar de melancolia, torpor e ressentimento. Através da sonoridade gélida do piano, que perambula pela atmosfera como uma espécie de personagem onipresente munido de uma feição entorpecente, a canção vai sendo dominada por uma energia densamente introspectiva que faz com que o ouvinte vá adentrando, cada vez mais, no vasto universo de seu próprio reino inconsciente.
Assim que o primeiro verso se inicia, porém, uma voz masculina entra em cena sob pronúncias intimistas e quase sussurrantes, as quais lhe conferem um caráter descrente e completamente ausente de qualquer sinal da mínima vivacidade. É por meio dessa estética narrativa, inclusive, que a obra tem seu senso entorpecente densamente amplificado a ponto de soar até mesmo palpável.
Tendo no beat o único elemento que tenta, em vão, manter algum tipo de elo entre o ouvinte e o estado de lucidez, a canção é capaz de fazer o ouvinte perceber, entre suas nuances sonoras, a existência de flertes pungentes para com a cenografia tanto do rap quanto do trap. Porém, mesmo com elas sendo identificadas, a obra não possui qualquer sinal de rigidez ou brutalidade, se arregimentando fluida a partir de sua própria e visceral sensorialidade melancólica.
Dramática em sua máxima essência, a obra pede que seja destacada a existência de sonares sintéticos secos em seu tom levemente agudo pipocando pela sua atmosfera sonora, bem como a fluidez estética para com uma atmosfera que, durante o refrão, assume seu ápice de intensidade. Graças à guitarra e seu riff ácido, Glass Cannon finalmente consegue extravasar a sua angústia e a sua melancolia tão represadas durante todo o seu enredo.
Experimentando, também, texturas dramáticas e tocantes através de flertes para com paisagens sensoriais oníricas, a faixa, com seu viés shoegaze, se aventura por uma reflexão pungente sobre como navegar por entre relacionamentos em ruínas. Ao mesmo tempo, Glass Cannon, a partir de suas melodias atmosféricas, incentiva o ouvinte a desafiar as visões de mundo por meio do uso de lentes de escapismo e autodestruição.
Gravada na cidade estadunidense de Los Angeles, quanto mais a canção se desenvolve, mais ela parece pedir por um senso honesto e sincero de compaixão e altruísmo do espectador. Afinal, ao expor certas cicatrizes emocionais, a faixa parece precisar de apoio para fazer com que seu personagem lírico se reerga e busque pela superação de seus próprios demônios.
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