A canção já se inicia sob uma vertente sonora madura. Puxada por um baixo de groove marcante em sua essência levemente seca, a obra leva o ouvinte para um cenário de aspecto indie rock que se mostra contagiante em meio ao seu minimalismo estético inicial. Na companhia de um vocal masculino de timbre grave no tom que rememora aquele de Brandon Flowers, o instrumento assume a função de ser, além do elemento que entrega corpo, o fator que dá a canção fluidez e ímpetos melódicos. Contando com o toque seco e suave do chimbal indicando delicadamente a contagem rítmica, Bridge Pickup, curiosamente, garante para si suores salientes interessantes que marcam a sua paisagem estrutural.
A guitarra é, aqui, o elemento que funciona como interlocutor inicial. Em meio à sua postura fresca, mas entorpecidamente melancólica perceptível por meio de sonares suspirantes, a canção explora um contexto de uma delicadeza intimista de caráter bastante orgânico. Macia, mas transpirando, ao mesmo tempo, uma essência harmonicamente crua, Green Tea conta, previamente, apenas com os tilintares ecoados da cúpula do prato de condução como fator a oferecer uma noção de movimento mais consistente. Trazendo o lo-fi como importante ingrediente de sua receita, a obra convida o ouvinte a caminhar por entre um senso de alegria fragilmente instigante que, ainda assim, contamina todo o ecossistema sonoro-narrativo.
Por meio de sua distorção áspera e suja capaz de trazer requintes de um toque soturno e levemente sombrio, a guitarra propõe uma cenografia de senso amorfinante que cresce com a presença de um baixo encorpado e de uma bateria de pronúncia intimista. Se mostrando, cada vez mais, uma obra de estrutura contagiante, Inside The Riot, apresenta um curioso enredo lírico. Ainda que embebida em uma paisagem divertida e atraente, a faixa parece tratar do vício como maneira de mostrar, aos outros, uma versão melhor da persona quando, na verdade, o entorpecente apenas está escondendo uma essência que causa desconforto para com o seu próprio hospedeiro. Inside The Riot é a ilustração de como a frágil autoestima age na ânsia de mudar, de imediato, a imagem do indivíduo perante o resto do mundo.
Mountain já traz um cenário surpreendente. Não existe torpor ou mesmo um requinte de puro entretenimento, como o oferecido na paisagem anterior. Aqui, a crueza encontra o rock em sua forma mais primitiva. Suja, levemente metalizada e brevemente soturna em sua estética, a canção explora uma melodia bastante consistência graças ao baixo que se movimenta na base melódica. É ele, inclusive, o elemento que fornece sisudez, intensidade e imponência à postura da obra. Contagiante em sua exploração de um terreno mais calcado no grunge, a música tem uma sonoridade equilibrada e de leve sensualidade que, inquestionavelmente, tem no baixo o elemento que carrega a sua máxima essência sensorial.
Group Syrup não é apenas o álbum autointitulado do grupo. É um produto que traz toda a essência sonora, lírica, harmônica e rítmica de uma banda de evidente ânsia em mostrar a sua sonoridade ao mundo. Cheio de coesão, consistência, equilíbrio e nuances de texturas que, nem sempre, se complementam, o álbum traz um som que comprova a versatilidade da banda, que consegue transitar do indie rock ao grunge com notável maestria.
É aí que as quatro primeiras faixas de Group Syrup se destacam. Afinal, elas trazem o soturno, ao mesmo tempo em que evidenciam o experimentalismo perante a delicadeza, o frescor e a melancolia. Essas composições mostram, de forma concreta, que o álbum merece atenção de todos os ouvintes ávidos por um som mais cru e de cunho autoral.
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Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/0I3O5Ve06h83jr6y50pQlp
