É interessante notar a presença do veludo e da sensualidade juntos em um despertar melódico que chega a comunicar uma singela imersão no campo da new wave. Puxada pelo sintetizador de Sarah E. Goldstone, a introdução logo recebe a bateria de Jason Burger que, crua, coopera com esse senso amaciado de swing ao lado do baixo de Christian Carpenter. Rapidamente fluindo para um primeiro verso em que as camadas líricas são preenchidas por um vocal surpreendentemente grave vindo de Carpenter, a faixa-título se transforma em um produto gélido e melancólico que mistura a já citada new wave com rock alternativo e synth-rock de maneira a flertar com a estrutura sonora de bandas como Depeche Mode e Tears For Fears.
A guitarra de Ryan Weiner é quem puxa, de imediato, a introdução. Com seu riff ligeiramente azedo e de pronúncia cuidadosamente trotante, ela é a responsável por definir o modo como os outros instrumentos devem soar, conforme a melodia se desenvolve. Dessa forma, a estrutura sonora se torna entorpecente em sua estética sensual ao estilo soul, na qual Carpenter explora, com gentileza, seus falsetes. Com essa estruturação melódica, porém, Nicotine é onde o Trivial Shields explica como é a sensação do efeito da nicotina, seu prazer, sua morfina, seu torpor e seu alívio que dão clareza. Não por acaso, o verso que melhor define a canção é “they’ll never know the relief that you can bring”.
A sensualidade continua latente no novo alvorecer. Proferida e estimulada principalmente através do baixo, essa característica faz da canção uma nova expoente do soul a compor a track list do EP. Com traços evidentemente gélidos, Prayer Cards reassume a estética melódica mista de rock alternativo e new wave nos mesmos moldes do Tears For Fears e com a mesma energia melancólico-entorpecente transpiradas na faixa-título.
Here The Past Is All I See é um EP curto, é verdade. Porém, suas três faixas são capazes de oferecer ao ouvinte viagens pelo torpor da mente, pelo alívio, pelo frescor e pelo gélido. Um trabalho que consegue promover melancolia, náusea e nostalgia na mesma medida. Um trabalho em que o mundo real parece tão irreal quanto o cenário palpável do inconsciente.
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