É de uma natureza tão leve e serena que consegue facilmente fazer com que o ouvinte se desprenda de qualquer preocupação e se permita flutuar perante seu próprio universo inconsciente. Delicada, macia e aromática, é interessante perceber que, nas entrelinhas de cada brisa sonora pronunciada pelo piano, existem traços de uma melancolia tocante e dolorida. Assim que o teclado invade a cena preenchendo os espaços com seu sobrevoo entorpecente através de sua essência sintética, The Sound Of Distant Laughter acaba soando reconfortante e, ao mesmo tempo, amorfinante em certo aspecto, marcando sua paisagem com um veludo palpável.
Existe, aqui, não somente um senso de excentricidade. Por meio do sonar soprante, agudo e adocicado da flauta, a canção, mesmo que em seus instantes iniciais, assume, para si, uma essência surpreendentemente folk céltica. A partir daí, é como se garantisse um aspecto de fábula, o que chama a atenção do ouvinte, mantendo-o atento a cada nova sonoridade desenvolvida. Quando um instrumento de corda entra em cena preenchendo o resto dos espaços deixado também pelo piano, o qual se movimenta na base melódica, esse viés folk céltico é engrandecido a tal ponto que entorpece o espectador com a aquisição de uma identidade etérea. Don’t Be Afraid, quanto mais se evolui, mais destaca sua postura compassiva tal como um abraço terno na ânsia de sanar a angústia de um indivíduo querido.
Ghost Girl é um disco instrumental penetrante. Afinal, pelo simples fato de ser baseado apenas em melodia, ele precisa capturar o ouvinte pela sua energia, pelas suas texturas e pela sua sensibilidade estética. E pelas mãos de Ian Rae, esses desafios foram alcançados a tal ponto que, quanto mais sonoridades diferentes se combinam, mais a sensorialidade do espectador se expande, lhe permitindo vivenciar experiências emotivas ainda mais profundas.
Nesse sentido, as duas primeiras faixas de sua track list se destacam pelo fato de combinarem delicadeza, melancolia e um clima céltico. Ainda assim, títulos como a charmosa romântica Let Me Down Gently e a dramático-redentora The Phantom Sausage também merecem a atenção por mostrar novos pontos de vista da musicalidade de Rae.
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