Dá para se dizer com notável facilidade que a presente introdução sugere que o ZELT é um grande explorador de paisagens sonoras audaciosas e experimentais em suas formas aparentemente dissonantes. Agraciada por um compasso rítmico de toque mudo, mas presente através de seu pulsar, a canção tem, no beat, aquele elemento que, além de promover a noção de movimento, oferta consistência e precisão rítmicas a uma canção que se baseia em sonoridades de cunho sintético. Favorecendo a criação de sensos de acidez e azedume, esse detalhe acaba fazendo com que Heydar acabe assumindo uma postura curiosamente dançante através de sua excentricidade liricamente regional fundida em uma estética sonora eletrônica e, consequentemente, digital.
A sonoridade e a movimentação extraídas da guitarra sugerem a criação de uma atmosfera árabe de caráter bastante marcante. Trazendo ao ouvinte cenografias turcas através da gradativa exibição de sua identidade melódica, portanto, a canção traz consigo uma autenticidade ainda mais marcante que aquela apresentada anteriormente na canção de abertura do álbum. Porém, aqui a estrutura rítmico-melódica ofertada é mais madura e orgânica, ao passo que sua arquitetura faz promover um senso de suspense que permeia toda a sua execução. Ben Giderim Batum’a é o exótico com toques densos de um suspense intrigante que paira por toda a sua execução, prendendo a atenção do ouvinte e o hipnotizando com suas sonoridades locais.
Saindo de uma certa grandiosidade enérgico-instrumental, o ouvinte é levado para um momento de súbita introspecção. Afinal, aqui existe um senso de breve melancolia que faz com que o sangue do espectador pare de fervilhar e entre em um compasso mais lento, permitindo com que a respiração retome seu ritmo normal. De caráter profundamente entorpecente, a canção consegue, já através de sua melodia inicial, retirar o espectador de seu estado de consciência e levá-lo a uma experiência extrassensorial intensa. Asfur é uma canção em que o sereno compasso rítmico funciona como um mantra repetitivo que permite ao ouvinte se aventurar pelo seu próprio inconsciente enquanto se mantém, de corpo, enraizado com o mundo real. Com o auxílio da voz aveludada e doce da vocalista, Asfur ainda consegue destacar influencias despretensiosas de doom perceptíveis em suas esquinas melódicas arquitetônicas, a tornando uma obra marcante da sequência de sons do álbum.
Não existe qualquer tipo de contestação. Istanbulu’u Dinliyorum é um álbum que propõe a quebra dos limites territoriais, que promove a audácia e a ousadia por meio da fusão estética. Um álbum que mostra que a música é o ambiente capaz de sanar qualquer tipo de desigualdade ao propor a união de dois mundos.
Afinal, através de suas sete faixas, o álbum propõe a intersecção equilibrada entre o ocidente e o oriente. Por meio de vieses orgânicos e outros sintéticos, o espectador é convidado a provar a excentricidade e o máximo da autenticidade que o ZELT tem a oferecer. Principalmente nas três primeiras obras que compõem o material, o espectador tem contato com uma mistura interessantes de gêneros musicais orientais que ampliam a sua própria percepção musical.
Ainda que seja adornado por paisagens sonoras provenientes da Turquia, da Palestina e da Geórgia, Istanbulu’u Dinliyorum é onde o ZELT apresenta as estéticas do waslat, raï, bhangra e nasheed através de atmosferas que vão do transcendental ao torpor. Explorando ambiências mântricas e outras com grande protagonismo rítmico, a verdade é que o álbum se vale pelo seu experimentalismo e pela sua paisagem multicultural.
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