O violão é o elemento responsável por puxar a introdução. Macio, fresco e solitário, o instrumento, a partir da forma delicada com que se movimenta, é capaz de fazer o ouvinte sentir um pulsar de emoção enigmático, mas que consegue fazer seus olhos marejarem por algo ainda incerto. Rapidamente, com o sobrevoo agudo e açucarado da flauta, o místico tangencia com a realidade, enquanto a sensualidade, através de um segundo violão, tenta fazer o elo entre tais dimensões.
Assim que o primeiro verso enxerga a luz do dia, as linhas líricas passam a ser preenchidas por um vocal de timbre sereno, levemente grave e fanhoso. Sob domínio de Patricio Anabalon, ele surge fornecendo uma interpretação do enredo que evoca não apenas o místico, mas uma estrutura fabulesca, fantástica. Repleto de rimas pobres, o lirismo passa a ser aquele elemento responsável por incutir toques dramáticos ao contexto sonoro.
Ao mesmo tempo em que isso acontece, porém, a bateria, com sua pronúncia cuidadosamente repicada, surge quase como para o dever de quebrar esse torpor linear até então disseminado pela melodia. Na forma de um folk, então, embebido em morfina e alucinação, La Noche Que Nunca Llega é uma canção em que o personagem, de fato, se perde entre o astral e o real, enquanto se questiona se as vivências experienciadas foram verdadeiras ou provenientes de um sonho. Aqui, por outro lado, a canção parece também explorar o efeito do álcool sobre a mente do indivíduo, fazendo-o delirar.
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